ESTES NAMOROS MADUROS
Não deixa de ser uma coisa interessante que está acontecendo atualmente,
pois sem dúvida, esta explosão de namoros maduros, é algo que contraria
algumas convicções que sempre existiram, segundo as quais a maturidade
representava sempre o fim da vida amorosa.
Até bem pouco tempo atrás, nem sequer se pensava nessa possibilidade.
As pessoas que enviuvavam ou se separavam na terceira idade, geralmente se
fechavam em suas ostras, e viviam exclusivamente para sua solidão e seus
lares.
Não havia vida social, salvo aquelas reuniões familiares, ou então passeios
em companhia dos filhos ou netos. Aliás, sempre eram consideradas as babás
ideais para os netos quando os pais queriam sair.
De repente, começaram a aparecer os Cecon, ou seja, os Centro de Convivência visando reunir o pessoal da terceira idade, organizando bailes, passeios, viagens, trazendo nova vida para essas pessoas antes destinadas à solidão.
Claro, nessas reuniões com esse pessoal com muita sede de viver, e que
estava re-descobrindo que a vida vale a pena ser vivida, começaram a surgir
alguns romances. Bem à antiga. Tímidos. Cheios de olhares e insinuações.
Casais que começavam a descobrir que ainda estavam vivos.
E principalmente, re-descobriram o namoro... Coisa mais linda... Começaram a
aparecer casais de terceira, quarta e quinta idades passeando romanticamente
de mãos dadas, vivendo novamente romances como em sua juventude.
O amor certamente faz bem para a saúde. Esses idosos rejuvenesceram. Muitos até mesmo esqueceram certos achaques e, para desespero de suas famílias, começaram a querer sair de casa, para viver o romance ao lado de suas parcerias recém descobertas.
Dentre esses casais assim formados, são muitos os que deram certo. Alguns
foram morar juntos, reconstruindo seus lares. Outros, contudo, preferem
continuar mantendo o clima de namoro. Cada qual em sua casa, encontrando-se com freqüência para namorar. Namoro dos tempos modernos, com tudo a que tem direito. Afinal, estão vivos.
Temos ainda outros namoros maduros. Via Internet. Alguém solitário de um
lado. Alguém solitário de outro. Descobrem-se via Internet, começam a
"conversar". Descobrem afinidades, começam a namorar. São romances etéreos.
Existem distâncias que podem dificultar uma aproximação física. Torna mais
excitante a coisa. Trocam fotos. Trocam confidências.
Como são pessoas vividas, com alguma bagagem, não querem e nem podem agir com precipitação. Qualquer compromisso, qualquer encontro deve ser bem
pensado e analisado. Não se pode repetir erros anteriores. E o namoro
prossegue.
Acariciam-se à distância. Muitas vezes surge um clima tão romântico, tão
gostoso de ser vivido, que acaba se prolongando indefinidamente. É tão bom
sonhar... É tão bom voltar àqueles tempos antigos em que jovens suspiravam
abraçadas às cartas de amor, aos bilhetes recebidos de seus apaixonados.
Agora são os e-mails que produzem tais efeitos.
E as jovens de outrora são pessoas maduras, que descobriram que ainda podem sentir aqueles mesmos sentimentos, aquele mesmo calor interno. E isso é muito bom. Descobrir que estamos vivos, que o coração não morreu. Que
podemos amar novamente. Que ainda sentimos aquelas mesmas sensações de
antigamente.
Que somos mesmo capazes de chorar de amor, de sentir saudade, de sentir
falta da pessoa desejada. Enfim, que somos capazes de viver.
Mais importante ainda, diversos casais que começavam a viver, digamos, como
irmãos, acabaram se reencontrando, descobrindo que ainda estão vivos e
sentem os mesmos desejos de antigamente. Sua sexualidade está mais viva do
que nunca. Descobrem-se como eternos namorados.
Estes tempos modernos trouxeram isso de muito bom. Mostraram que ao
contrário do que se pensava antigamente, o amor, o carinho, o tesão, não
morrem com a idade.
Na semana passada, um casal de amigos nossos que estavam namorando já há
alguns meses, participaram aos amigos que iriam viver juntos, e estavam
montando um apartamento com tudo novo para a mudança. A idade deles? O noivo feliz tem 82 anos, e a noivinha radiante 78. Conheceram-se num dos bailes do Cecon. Pode haver história mais linda? É comum encontrá-los romanticamente de mãos dadas passeando nos jardins da praia.
Namoro maduro é assim. Sério e efetivo. Não sei bem onde li que os romances
surgidos no outono da vida são os melhores, porque são maduros, pensados,
resolvidos não no fogo da paixão jovem, mas sim na calma da maturidade.