tamanho original  A RASPADINHA e A FÉ  tamanho original

 

Era um dia como tantos outros dias. Parecidos e totalmente diferentes. Estava agoniada, tensa. Preocupada e nervosa. Indo trabalhar, fazer mais um entre tantos eventos. Pintar mais rostinhos infantis entre tantos já pintados. Não estava nada inspirada naquele dia. Uma dívida urgente a ser sanada me fazia pensar sem parar em uma saída, uma solução, pois que sempre há uma saída nem se questiona!

Qual seria? Fazia e refazia contas na calculadora do celular enquanto andava distraída pelas ruas. Droga! Faltavam apenas 100,00 reais... Só R$100,00! E R$100,00 eram muito no momento...

Suspirei fundo e desisti de fazer a “mágica ciranda financeira” do "tira daqui", "coloca acolá"... Nada funcionava! No fim sempre aparecia o furo dos danados R$100,00!!!


Entrei em uma Kombi, transporte alternativo que prefiro aos ônibus legalizados, entupidos de gente onde nunca há lugar pra sentar e geralmente dirigidos por motoristas carentes de paciência e educação (com raras exceções)em direção ao segundo transporte que teria que pegar pra chegar ao local do evento.

Por alguns minutos, durante aquele trajeto, relaxei.

Deixei meus pensamentos fluírem pra outros lados... 
Sonharem e viajarem livremente!
Permiti que minha mente cansada absorvesse a Paz trazida pelo som gospel que o motorista ouvia e substituí as preocupações pela música de qualidade que tocava na Kombi.
As belas mensagens de Força e Fé entravam como bálsamo em minh'alma exausta...
Não importava o nome da religião. Importava as boas mensagens que trazia em som e mensagens... 
A mente não estava vazia. Nunca ficava... apenas oscilava entre o problema que tinha pra resolver e um pouco de “relax mental” pra evitar um treco, uma pane, um curto circuito e a morte de alguns milhares de neurônios.

 

- Desta vez resolvei sozinha a situação! – pensei em voz alta.

 

O motorista me olhou com um largo sorriso e retribuí da mesma forma. Sentada ao seu lado, pedi que aumentasse o volume do som e cantorolei alguns trechos com ele.

Chegamos ao ponto final. Saltei e nos desejamos um bom dia de trabalho.

Atravessei a rua bem rapidinho fugindo dos carros que circulavam com o sinal aberto.

 

- Doida! Quer morrer atropelada? – gritou um motorista mais estressadinho...

 

Fiz um sinal com os dedos pra ele. Sinal mal-criado, mal-educado e sem propósito, já que estava errada, ele certo e sabia disto.
Mas em minha agonia precisava extravasar com algo ou alguém e sobrou pra ele.

Horrível admitir isto, mas me senti bem melhor!

Fui ziguezagueando entre as pessoas que circulavam pela calçada olhando vitrines de lojas com a rapidez de quem está acostumada a desviar e encurtar caminhos e não tem a menor paciência pra multidões.

Passei em frente a uma banca de jornais. Dei uma paradinha básica pra ler as manchetes dos principais jornais do dia. O de sempre. "Renan Calheiros..." Nem li o resto... Desnecessário. "Violência atinge noite carioca... " ... "Bala perdida mata menino no Complexo do Alemão..." "Celebridades..."
Nada que valesse a compra de um jornal. Problemas a serem lidos e absorvidos? Nem pensar! Bastava-me o meu por hora.

 

Lembrei-me de Rauzito: “♪ Eu não preciso ler jornais ♪...Mentir sozinho eu sou capaz ♪... ♪ Não quero ir de encontro ao azar!!!♪ ♪ ♪ ”

Num ato impulsivo entrei na banca e pedi ao jornaleiro:

 

- Uma raspadinha “Salário Já” no valor de R$100,00, por favor...

 

O jornaleiro corrigindo-me de imediato, retrucou:

 

- Senhora, o valor da raspadinha é R$1,50 e não R$100,00.

 

Rebati:

 

- "Senhora está no Céu"... O Senhor não tá entendendo... Quero uma raspadinha “Salário Já” premiada com R$100,00, captou? - disse com "ar" autoritário!

 

Ele riu como quem ri de uma doida varrida em péssimo estado de conservação mental...

 

- Bem...Se a moça tá dizendo...

 

Peguei a raspadinha, paguei os R$1,50, puxei a chave de casa do fundo da bolsa e raspei ali mesmo.

 

"Três valores iguais...

Três vezes R$100,00 impressos neste pedaço de papel... 
FÉ! 
Concentração total..."

 

Cantarolando, vi o primeiro 100,00...

Cantarolando, raspei o segundo 100,00...

Cantarolando, veio o terceiro 100,00!!!

 

- Ulalá! Ameym! - estava sem ar...

 

O jornaleiro ficou me olhando com cara de babaca e perguntou:

 

- Como você fez isso?

 

Olhei pra ele de cima em baixo e disparei:

 

- O senhor é evangélico, não é?

 

- Sim. Claro que sim! Jesus é Meu Salvador!!!


Então, querendo tirar “uma onda” de leve com o "novo amigo" jornaleiro, que sou mesmo moleca e nada fácil, perguntei com a seriedade de uma teóloga-atriz:
 

- Então por que me pergunta como fiz isto? Eu é que te pergunto, amigo:

 

- “Onde anda a tua FÉ, Irmão?”

 

Dei as costas e saí alegre, saltitante, feliz e agradecida aos Céus por terem enviado a solução do meu problema na forma de uma raspadinha. 
Resmungona, pensei:


-“Pôxa, por que não pedi logo R$5.000,00? Eu os teria mensalmente por 1 ano. Seria um grande alívio e..............” ...toim/toim...

 

 

Stop! Apitos soaram em meus ouvidos. Sinais vermelhos surgiram em “flashs” diante de meus olhos e parei no ato.

 

- Desculpa aí, Poderoso, foi mal! Obrigada pela Graça alcançada e... bem, sabe que sua filha aqui é meio destrambelhada e resmungona mesmo. Valeu pelos sinais... Prometo nem pensar em reclamar de novo, ok?

 

Senti a alma inundada de bons fluídos, a mente repleta de bons pensamentos, a Fé renovada na aprendizagem do dia e meus Anjos sorriram comigo...
 

Olhei rapidamente pra trás. O jornaleiro continuava com cara de babaca me olhando de longe como quem vê uma assombração.
Ri em alto e bom som sem me preocupar com quem passava e me fitava rindo sozinha...

Sapeca, liguei o botão do "tô nem aí!", liguei pra um amigo e contei o ocorrido sem entrar em muitos detalhes e segui meu caminho cantarolando como sempre e muito, muito mais feliz!!!

 




by MarCela Torres  
 

Music tamanho original SOL DE PRIMAVERA tamanho original Beto Guedes




IMAGEM retirada da net




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MarCela Torres
Enviado por MarCela Torres em 01/01/2008
Reeditado em 16/10/2012
Código do texto: T798883
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