É golpe! Não é golpe! É sim! Não é, não!

- O Brasil é um país de gente doida.

- Queria o quê?! Misturou-se, aqui, gente de toda cor e de cor nenhuma, gente de todo credo, e de nehum credo, e filhotinho de cruz-credo, gente de todas as raças e gente de nenhuma raça.

- Deu no que deu.

- Se deu.

- No Brasil encontra-se gente com inteligência de Einstein e gente de inteligência simiesca equivalente à dos mais primitivos primatas.

- O meu primo é um primata.

- Conheço um cara que tem inteligência crocodiliana, da era mesozóica. Ele tem cérebro de passarinho, de pardal.

- Tu estás se referindo ao Gordo Esmilinguido?!

- Ele mesmo.

- De quem se trata?

- Do marido da Cláudia.

- Cláudia...

- Da Ferragem Ferrugem.

- Ah! Sei. O tal de Rubão. O cérebro dele não existe. O Rubão só tem hipocampo.

- O sujeito é tão doido que na cabeça tem um cavalo-marinho.

- Cérebro reptiliano, do período cambriano.

- Se no Brasil não houvesse tanta gente doida, não haveria a tentativa de golpe.

- Que tentativa de golpe, tratante?! Não houve um golpe em lugar nenhum. Foi um falsoflégue.

- Que louquice é esse, maluco?!

- Golpe que não foi golpe. Coisa que não foi a coisa que dizem que foi. Um exemplo de falsoflégue: Vêm os da turma do bairro do Cupim, que é inimiga da turma do bairro do Formiga, e elaboram um plano diabólico: "Vamos botar fogo na casa do Zé e dizer que quem a afogueou foi a turma do Formiga." Aí, tacam fogo na casa do Zé. E chega a polícia. E inventa-se uma história do balacobaco, tão doida, que parece verdadeira, e a turma do Formiga leva a pior.

- Tu és um bom explicador.

- Não expliquei; exemplifiquei.

- Mas não foi a turma do Formiga que infernizou o Zé.

- Para todos os efeitos, foi.

- E foi isso o que se deu em janeiro do ano passado?

- Aqui no Brasil. E há dois anos na terra dos gringos. A mesma história, com algumas diferenças.

- O mesmo roteiro. Personagens, outros, os dos Estados Unidos de nomes ingleses; os do Brasil, de nomes portugueses.

- Que a história do dito golpe, maldito, está mal dito, está. E creio que tal golpe não passa de, e nada mais é do que, história da Mamãe Gansa.

- Está envolta a história em mistério.

- Não há mistério algum.

- Se há mistério, é um trabalho para Scooby-Doo, Salsicha, Fred, Daphne e Velma.

- Não há mistério. O caso está mais claro do que cristal.

- Se houve uma tentativa de golpe, ela se deu em outra dimensão, paralela à nossa.

- Não houve golpe.

- Onde estão as imagens dos sistemas de segurança dos palácios golpeados?! Onde?! Sumiram.

- Sumiram com elas.

- O sistema de armazenamento de dados apagou-as, para gravar outras imagens, quinze dias depois de gravá-las.

- Vós acreditais em tal patacoada?

- Golpe, se foi, foi na Cochinchina. Aqui, em terras de papagaios e maritacas, golpe não houve, não; nem em sonho.

- O que houve, então?

- Eu ouço palavras, sons, barulhos, cantares, mugires, relinchares, uivares, latires e miares.

- Paspalho.

- No dia em que um bando de gente doida fez a besteira que fez, em Janeiro do ano passado, vi imagens de pessoas, dentro dos palácios dos três poderes, a invadirem-los, e, nos dias seguintes, gente dentro deles neles facilitando a entrada daqueles energúmenos desmiolados que quebraquebraram relógios, cadeiras e sofazes e janelas, e viraram tudo de pernas para o ar.

- Parecia a casa da mãe Joana.

- Verdade verdadeira. E desde aquele dia suspeita-se da participação de agentes do governo no auê,naquele banzé, naquele bololô infernal.

- Que invasão?! Gentes de dentro abrindo as portas para gentes de fora... Invasão... Invasão é o diabo que te carregue!

- Que foi um fundunço, foi.

- Foi. E nada mais do que isso. Acredito que assistimos a um falsoflégue, planejado e dado a cabo pelo governo, para dar cabo de quem critica o governo.

- Desde então, enfia-se no pacote "Gospista do Oito de Janeiro" todo ser sapiens que critica o governo.

- Se é.

- Perseguição política a mais deslavada.

- Se é.

- E depois, sumidas as imagens, assim, misteriosamente...

- Sumiram... Apagadas... Onde estão?!

- Governo incompetente. Viu-se sob o tacão de um golpe, e não providenciou uma cópia das imagens... 'tá bom. Contem-me outra, que nesta eu não caio.

- Sei lá eu, entendem. Acho que houve uma tentativa de golpe, sim, mas o exército do Brancaleone é tão atrapalhado que deram com os burros n'água.

- Vós tendes de entender.. É... O... Eu se esqueci do que iria dizer.

- Estou, aqui, pensando com a minha cabeça: A política é uma rinha de galo. Há quem diga que é um jogo de xadrez. Besteira. Há quem diga que é jogo de pôquer. Besteira. É rinha de galo. Vale-tudo sem regras até a morte de alguém. Quem entra na rinha ou dela sai morto, ou às portas da morte.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 14/02/2024
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