Caso do acaso.


Por vezes, devida a minha crença na metafísica, fico a quetionar se realmente o acaso existe.
Hermann Hesse tinha razão, in litteris: "O acaso não existe. Quando alguém encontra algo de que verdadeiramente necessita, não é o acaso que tal proporciona, mas a própria pessoa; seu próprio desejo e sua própria necessidade o conduzem a isso".(Demian)
Há pouco tempo intervim quando assisti chocada o espancamento de uma criança de cinco anos apenas aos 
ponta-pés, pelo próprio genitor... Não dá para chamá-lo de pai. E, sua justificativa bastarda é que era apenas um corretivo e que ele também quando criança assim sofrera... Quase acreditei na genética da violência.. Gritei, e tirei o homem de cima da criança caída no chão e com sérios hematomas.  Um ex-aluno diante do escândalao que fiz, veio também me socorrer...  E, ele na hora foi a pessoa mais efetiva afastando fisicamente o cramunhão do genitor.  A mãe quando chegou, com aquele olhar de vítima contumaz, pegou a criança no colo e, ela chorava silenciosamente... Perguntei se ela queria levar a criança ao pronto-socorro, respondeu que não, e com uma tristeza imensa retornou para casa. O pretenso pai seguiu caminho, vituperando impropérios e, dizendo, que não era de mais, somente um corretivo.
Fiquei a pensar, se um providencial raio vindo dos céus poderia também dar um breve corretivo no agressor... Mas, não se apaga o mal com outro mal... Aquele sujeito precisa de terapia, talvez medicamento, e quiçá internação psiquiátrica, nem que seja breve.  A criança quando a socorri, encolheu-se tanto que parecia querer a voltar ao útero, totalmente desprotegida, desumanizada e triste.  Aquilo me impactou... Não sou uma pessoa forte, nem musculosa, tenho 1,78 m de altura e peso setenta quilogramas... Estou "meio-gorda"... mas, a cena me fez parecer uma elefanta a defender a cria diante de manada enlouquecida...

Como podemos banalizar a violência? Como podemos ficar cegos diante de vítimas cotidianas, mulheres, crianças e idosos? Não foi o acaso... eu sou devota de São Jorge e São Benedito... a quem aliás, estou a dever umas velas devido a uma promessa e uma graça alcançada. Rezei e, busquei que deus, santos, entidades, orixás e toda a metafísica sagrada orientasse aquela criatura e, para então enxergasse seu erro e o trauma que produziu naquela criança... Que um dia, será um homem, que um dia, terá filhos e, quem, sabe possa fazer diferente.
Meu ex-aluno, que até hoje me chama de "tia" falou que o homem ficou com medo de mim... Eu, essa figura que já foi esquálida, uma mulher que passou dos sessenta anos... que pinto os cabelos já nevados e brancos...  Percebi que da contenda também ganhei hematomas (medalhas de combate). Mas, minha alma não conseguiu hesitar. Nem titubear... Só espero que Deus proteja essa criança e essa mãe. E, que o império da violência seja derrotado... pela força da fé e do afeto.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 19/02/2024
Reeditado em 19/02/2024
Código do texto: T8002445
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