AMPLIAR NOSSAS PLANTAÇÕES COMERCIAIS COM ESPÉCIES NATIVAS: SIM, NÓS PODEMOS

 

Moacir José Sales Medrado[1]

 

Em meio aos crescentes desafios ambientais que enfrentamos, a necessidade de repensar nossas práticas agrícolas e florestais nunca foi tão urgente. A ampliação das plantações comerciais com espécies nativas surge como uma luz no fim do túnel, um caminho promissor que reconcilia produtividade com preservação ambiental. Sim, nós podemos transformar o cenário atual em uma oportunidade para a regeneração do nosso planeta, e aqui está o porquê.

 

O primeiro passo nessa jornada envolve um olhar cuidadoso e respeitoso para as espécies que naturalmente prosperam em nosso solo. A seleção de espécies nativas para o cultivo comercial não é apenas uma homenagem à biodiversidade local, mas também uma estratégia inteligente que aproveita a adaptabilidade dessas espécies às condições climáticas e edáficas locais. Isso minimiza a necessidade de intervenções artificiais, tornando as plantações mais sustentáveis e resilientes a longo prazo.

 

Conscientes dos impactos que as plantações podem ter sobre o meio ambiente, a implementação de um projeto como esse demanda uma avaliação ambiental rigorosa. Através dela, podemos prever e mitigar possíveis danos, garantindo que nossas ações promovam a saúde do ecossistema. Este é um compromisso com a terra que nos sustenta, uma promessa de que nossa prosperidade não virá à custa de seu bem-estar.

 

Mas o sucesso deste empreendimento não se mede apenas em termos de saúde ecológica. O engajamento e o benefício das comunidades locais são igualmente cruciais. Afinal, são elas que melhor conhecem a terra e suas nuances. A colaboração com essas comunidades não só enriquece o projeto com conhecimento tradicional, mas também assegura que os frutos do sucesso sejam compartilhados. O emprego local, a capacitação e a inclusão nas decisões são pilares para uma coexistência harmoniosa e frutífera.

 

E enquanto caminhamos por esta trilha, não estamos sozinhos. Parcerias com organizações ambientais, instituições de pesquisa e o governo criam um tecido de apoio robusto, fortalecendo o projeto com expertise e recursos. Além disso, a busca por certificações sustentáveis serve não apenas como um selo de compromisso com as melhores práticas, mas também como um farol que guia outros a seguir o mesmo caminho.

 

Exemplos notáveis, como o Projeto RECA, a iniciativa Natura Ekos, a empresa Guayakí, e os esforços do Maya Nut Institute e projetos silvopastoris na Colômbia, ilustram a viabilidade econômica aliada à conservação ambiental. A Força-Tarefa Silvicultura de Espécies Nativas da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura é um exemplo emblemático no Brasil, promovendo a silvicultura de espécies nativas como um pilar estratégico para o desenvolvimento sustentável. Essas iniciativas destacam o potencial de harmonizar as necessidades humanas com a preservação da biodiversidade, criando um ciclo virtuoso de desenvolvimento sustentável.

 

Além dos plantios comerciais em seus diversos modelos, a recuperação de áreas de reserva legal com plantios de espécies nativas representa uma oportunidade singular para aliar conservação ambiental a benefícios econômicos. Esse instrumento legal não apenas assegura a preservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, mas também permite o aproveitamento comercial das espécies nativas, demonstrando o potencial de práticas sustentáveis para revitalizar e valorizar terras, enquanto cumprem com a legislação ambiental. É uma estratégia que reforça o elo entre a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais, promovendo um modelo de desenvolvimento que é ecologicamente responsável, economicamente viável e socialmente justo.

 

Portanto, sim, é plenamente viável ampliar nossas plantações comerciais com espécies nativas, gerando não apenas retorno econômico, mas também benefícios ambientais e sociais significativos. Estes exemplos são testemunhos vivos de que a sustentabilidade não é apenas um ideal a ser perseguido, mas uma realidade prática e alcançável. Eles servem como um lembrete poderoso de que, ao adotarmos práticas que respeitam o equilíbrio natural, não estamos apenas garantindo o futuro do nosso planeta, mas também abrindo caminho para um legado de prosperidade, equidade e harmonia com a natureza para as futuras gerações. Sim, nós podemos – e devemos – liderar esta transformação

 


[1] Engenheiro Agrônomo (UFCE), Especialista em Planejamento Agrícola (SUDAM/SEPLAN-Ministério da Agricultura), Doutor em Agronomia (ESALQ/USP), Pesquisador Sênior em Sistemas Agroflorestais (EMBRAPA – aposentado), Consultor da Medrado e Consultores Agroflorestais Associados.