VIDA DE CACHORRO

 

     Segundo dados do Instituto Pet Brasil (IPB), o país tem 58 milhões de cães. Adotar um cachorro virou modismo, pelo disse me disse estimo uma média de dois mihões e meio de cães somente aqui na capital de São Paulo. Tem prédio de condomínio residencial em que o morador cria de dois a quatro caninos num apartamento de 30 m² e é comum formarem-se filas no elevador de serviço para os cães saírem para os passeios rotineiros devidamete encoleirados.

     De tanto eu topar com esses animais diariamente, fiquei expert em raças caninas e nos perfis dos respectivos donos. O cachorro do pobre geralmente é neurótico e histérico e o latido é estridente e irritante, já o cachorro do rico late educadamente, pausadamente, parece mais uma cantada do que um latido. Entre as raças da moda adotadas pelos ricos paulistanos, desfilam: buldogue francês, lulu-da-pomerânia, golden retriever, shih tzu, border collie, o paulistano de classe média desfila com labrador e poodle, já o do pobre não tem raça definida, qualquer um serve, do vira-lata ao pastor-alemão, desde que seja doado, sofra de insônia para latir noite a dentro e faça cocô o dia inteiro, sem hora marcada.

     Já para sujar as calçadas não existe raça específica nem status social do canino, vai mesmo é pelo comportamento do acompanhante. Quando a dona do animal é antipática, feia, grosseira, sebosa e preguiçosa, o cãozinho, até por vingança e represália a sua megera, sai sujando tudo quanto é calçada e ela, com aquele ar displicente, vai deixando o rastro de cocô pelo caminho. A condutora bonita, elegante, de corpo atlético, geralmente educada, sai desfilando com seu cãozinho, metida naquela roupa colada, sem conseguir enxergar nenhum outro vivente, pois só tem olhos para o seu pet, e quando se abaixa com aquele corpo estonteante para apanhar o cocô do seu querido e amado companheiro ( por princípio ela não deixa a sujeira na rua) é de deixar qualquer marmanjo com inveja do sortudo quadrúpede.

     A vida de cachorro aqui na capital é uma boa, não importa o status do dono. Na próxima encarnação, quero voltar cachorro, pode ser pastor-alemão ou pastor-cearense, a raça pouco me importa, desde que minha dona seja uma modelo de corpo sensual e excessivamente educada, pois é muito feio e politicamente incorreto deixar cocôs pelas calçadas.

 

Autor Benedito Morais de Carvalho (Benê)