Os Dentes Brancos de Priscila

Priscila tem a boca cheia de dentes brancos. Faz questão de um sorriso largo.

A alvura de seus dentes se mistura com a da pele.

Ela é toda branca, branca como a neve. Seria Priscila a Branca de Neve?

Olhos e cabelos castanhos produzem um contraste simétrico, se isso for possível. Em Priscila é possível.

Inclusive ausência. Às vezes ela parece estar em outra órbita.

Tem um estrabismo quase imperceptível, o que a deixa com um ar de mistério.

Ela fala e sorri ao mesmo tempo, enquanto olha para lugar nenhum...

Usa roupa e sapatos brancos. Quando fala, as palavras são brancas.

Quando ela se debruça sobre mim, sinto seu hálito. Branco.

E quando seus dedos brancos e aveludados tocam minha boca, estremeço.

O coração dispara. Ela percebe e pede calma.

Aproveito um instante de distração, para observá-la: está séria, compenetrada. Inteiramente entregue...

Os lábios são levemente cor-de-rosa.

Imagino-a passeando em um imenso jardim de rosas brancas... Como identificar Priscila entre rosas?

Então vejo um sorriso esplêndido. É ela.

Fecho os olhos e deixo-a fazer o seu trabalho.

Saio do torpor quando ela diz “pronto, pode se levantar”, depois de jogar água em minha boca e ofertar um lenço branco.

Então ela marca nova consulta e diz convicta: “mais duas sessões e esse canal estará inteiramente curado”.

J Estanislau Filho

Do livro Crônicas do Amor Virtual e Outros Encontros- Editora Protexto - 2012