NO TEMPO DO BARALHO...

NO TEMPO DO BARALHO...

Sim, espantado leitor, incrédula "leitriz", digo, leitora... houve um tempo em que a maior diversão em quase todas as casas (talvez a única, além de ouvir Rádio) era o... BARALHO ! Eu disse "ba-ra-lho", antes que alguém "confunda" as coisas ! Eram tempos púdicos, ou pudicos, sei lá, "nhanhar" se praticava vez ou outra, apenas para procriar, "multiplicar-se", segundo a Santa Madre Igreja, lá por 1940-50, ainda sem TV nas casas, com 90%, de católicos fervorosos... ou quase isso. Hoje os crentes já se gabam de serem a maioria, boa parte deles "ex-cristãos" !

Criança também jogava baralho, embora lhes fosse proibido assistir a jogatina dos mais velhos, virando a noite, muito café, chimarrão e cigarros, lá no sul do Paraná. Com baralho, para os adultos, jogava-se o solitário "Paciência", que nunca entendi como funcionava. Tia Anita gastava as tardes naquilo e não queria ser incomodada. Puxava 4 ou 5 fileiras de cartas sobre a mesa e, de um montinho extra, tirava uma a uma, colocando-a aqui ou ali, por vezes descartando-a. Porém, "BURACO" e Canastra eram coisa séria, jogados em silêncio, as 2 duplas com cara de quem iria "tirar o pai da forca". Me parece que a Canastra exigia um caderninho, no qual eram somados os grupos de cartas formados por cada um, até um certo limite de pontos. Tio "Nato" "roubava" sempre, ou levantando a ponta da carta "de baixo" (antes de comprar a sua) ou então "somando errado" a favor de sua dupla.

Tia Anita só fazia dupla "contra ele", era o primeiro grito de FEMINISMO em época tão longínqua. "Mulher tem que cuidar de fogão, baralho é coisa de macho"!, vociferava, quase sempre quando estava perdendo -- mesmo "errando" nas somas -- contra a dupla da santa esposa e uma vizinha qualquer, além do tio José (irmão dela) ou do comerciante José Comte, vizinho da casa de trás.

Para a garotada o baralho (deles, o dos velhos ficava trancado numa caixinha forrada de veludo, intocável, passavam até talco nas cartas) servia para fazer "castelos", que ficavam em pé menos de 2 minutos... vencia o de altura maior ! Além disso, tínhamos o "Róba Monte" e uma espécie de "Resta 1", onde se selecionava uma carta, o "Coringa", que ficava sobre a mesa, â vista de todos, era o... "BURRO" ! Pois bem, distribuídas as cartas, cada jogador "formava pares" com as suas, da "mão" descartando sobre a mesa as "duplas", "casais" de cartas iguais, já não lembro se com naipe igual. Logo, restavam com cada um apenas cartas "solteiras", sem par, que estavam ainda no "monte de compra" ou NAS MÃOS dos oponentes, inclusive o terrível "BURRO". (*1) Findo o monte de compra, passava-se a tirar carta por carta das mãos dos oponentes, na ordem de jogo, claro. Restava ao azarado fazer cara "de paisagem" e torcer para que alguém "comprasse na sua mão" a carta maldita, que não tinha par. ía-se comprando e descartando "os casais" recém-formados (bastava ter o número ou a letra igual, ignorando-se os naipes) até que restassem COM CARTAS somente 2 jogadores, um deles com o "BURRO" ! Numa reunião com amigos de longa data a coisa se torna bem divertida.

Quanto ao "Rouba Monte", esse é bem mais simples, meio infantil... recebidas todas as cartas, usando 2 baralhos completos para 4 ou 6 jogadores (até mais), cada oponente "monta" seu "montinho" de cartas iguais, observando OS NAIPES delas, o que impede a todos de comprar o monte alheio, já que nas 104 cartas só há 4 iguais, duas e duas. Logo, feito um "casal" de uma carta qualquer, restam apenas outras duas iguais na mesa... os mais espertos só constroem seu "monte" com cartas da qual tenha ao menos 3 exemplares (dos 4), isso lá pelo fim do jogo. Vai-se comprando os "montes" alheios e pondo-os SOBRE o seu e não embaixo dele.

Se o jogador guardou a "irmã" daquela carta, (no caso, a terceira) irá recomprar seu monte adiante, já "engordado" com o adquirido pelo oponente... vence quem , no fim das cartas todas, tenha o monte maior, Assim nossos trisavós SE DIVERTIAM nas noites de inverno... e nas de verão também. Atualmente, a meninada nem sequer videogames tem mais: agora se divertem vendo "dancinhas" alheias no celular ou fotografando a si mesmos DEZENAS de vezes, a cada dia. Realmente, a juventude moderna É MUITO SEM GRAÇA !

-- "Que tal... vamos JOGAR BARALHO" ?!

"NATO" AZEVEDO (em 24/fev. 2024, 18hs)