Eu tenho uma teoria sobre o surgimento do trisal que está super na moda. Claro que algumas pessoas ainda resistem bravamente dizendo a famosa frase: o que é meu, não divido. Ok, também penso assim, mas, há poucos dias uma amiga me contou sua história. Confesso que ainda não aceitaria um trisal mas confesso também que prometi a mim mesmo não julgar mais quem queira dividir a pessoa amada com outro(a).

          Depois de alguns anos de casada, situação financeira confortável, rotina definida todos os dias, inclusive na cama, as reclamações começaram: marido sempre trabalhando, sexo morno, beijos na testa ao sair e a conclusão de quem ele tinha uma amante. Colocou um detetive para descobrir quem era a vagabunda, mas não conseguiu nada. Em seus devaneios imaginva a cena, ela invadindo um flat clandestino e pegando os dois no flagra, tirando fotos para usar no divórcio. Nada, nada mesmo. Ele simplesmente não me ama mais, pensou ela desesperada. Preferia que ele tivesse uma amante, disse-me ela. Não entendi essa preferência dela, mas calei.

          Um dia tudo mudou. O marido caiu doente e ficou uma semana em casa se recuperando. Ela como uma boa esposa virou sua enfermeira. Homem em casa sem fazer nada e ainda por cima doente, é desesperador, ela disse, ele virou uma criança. As exigências dele quase a deixaram louca. Sua vida ficou em segundo plano: encontrar as amigas para almoçar ou um happy hour, nem pensar, ir para academia, fora de questão, a massagem relaxante, pior ainda. Ele fazia ela se sentir culpada por deixá-lo sozinho com a empregada. E seu tiver um infarto? ele perguntou. Detalhe: ele estava apenas com uma simples virose. Ser enfermeira do próprio marido era insuportável e ela estava estressada. Chegou a desejar que o marido voltasse a trabalhar até mais do que antes e jurou que se algum dia se divorciasse ou ficasse viúva, jamais casaria novamente e seria a amante. A amante só pega a melhor parte, ela desabafou.

          Finalmente ele voltou a trabalhar e a velha rotina também voltou. Um tempo depois ele começou a lhe dar jóias de presente e sua mãe foi taxativa: Ele tem outra. Ela suspirou e decidiu que não iria fazer nada a respeito, mas que iria se tornar uma mulher inesquecível. Entrou em um curso de massagem tântrica, strip tease e começou a realizar suas fantasias e as dele. O marido surpreendido com a mudança enlouqueceu e aprovou a nova mulher que ela tinha se transformado. Sua mãe poderia ter razão sim, mas seja quem fosse essa mulher, se é que ela existia, havia mudado seu casamento para melhor. E mais: quem sabe ela também não encontraria um homem jovem másculo, viril e resolvesse ser feliz também.  No final ela me disse que não queria saber se o marido tinha ou não uma amante e que se estivesse dividindo ele com outra, estava adorando esse trisal.

          Às vezes me pergunto: será que não foram as mulheres, cansadas da rotina e de serem traídas, que descobriram as vantagens de dividir tudo que é exigido delas com outra e assim ratificaram o trisal que a comunidade gay, por razões diferentes, incorporou e ajudou a popularizar? Pode ser que sim, pode ser que não, mas o fato é que nesse caso sou conservador e não divido o que é meu. Quando amo sou exclusivo e exijo exclusividade.

          

José Raimundo Marques
Enviado por José Raimundo Marques em 26/02/2024
Reeditado em 26/02/2024
Código do texto: T8007949
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