O SISTEMA

Eu e o cash, o cash e eu, uma relação de amor e ódio. Inicio a operação. Insiro o cartão. Sigo todas as orientações. Aliás, obedeço a todas as ordens. Digite a senha. Aguarde. Insira o cartão para confirmar a transação. Aguarde....................................................................................

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Nada. Detesto quando me dizem aguarde. Aguarde serve para enganar tolos, passivos. Ficam ali confiantes nesse termo gerúndio. Gerúndio porque você aguarda uma manhã inteira, um dia inteiro, a vida inteira.

Quando se aguarda frente a uma pessoa, você tem até chance de perguntar, de demonstrar impaciência e até de procurar uma confusão. Agora, meu leitor, quando você espera frente a um frio e imponente cash eletrônico, a coisa é outra. Não adianta argumentar. Se se pergunta, a resposta é sempre a mesma, aguarde... Pode ficar impaciente à vontade porque cash é calmíssimo. Não procure confusão, não há chances de pessoa alguma vencer. Não chute a máquina, você pode quebrar o pé ou ser preso.

Não desisto por qualquer coisa. Aquele meu impasse perante a coisa tecnológica me deixou nervosa. Chamei uma mocinha estagiária, aguarde. Chamei o segurança, aguarde. Chamei uma funcionária metida a gerente, aguarde. Chamei uma subgerente, sinto muito, tem que aguardar. Chamei a gerente, infelizmente a senhora vai ter que aguardar, é o sistema e nada posso fazer. Foi a conta para a educação fugir pela porta do estabelecimento bancário.

Olhe aqui, minha senhora, eu não conheço o sistema. Nunca o vi sentado e de perna passada em qualquer praça ou bar. O sistema é um vagabundo que entra e sai à hora que bem entende. É um empregado folgado. Eu sou a patroa e ele deveria estar aqui para me atender. E ela: infelizmente, nada se pode fazer, o sistema saiu do ar, temos que aguardar.

A senhora aguarde, eu não.Sabe há quanto tempo estou aqui? Sabe se estou necessitando ir ao toilette? Se sofro de incontinência urinária? Se tenho um encontro marcado? Se tenho uma consulta médica? Se estou no meu horário de dar aula? Eu vou sair daqui. E a gerente: não pode, tem que aguardar.

Olhe aqui, minha senhora, eu não tenho que fazer coisa alguma e esta máquina não manda em mim. Se eu me afasto daqui e o vagabundo do sistema resolve entrar, e o meu dinheiro sair do cash, o banco se responsabiliza? Claro que não, por isto a senhora tem que aguardar.

Nem pensar, a Constituição não me obriga a aguardar, o meu direito sagrado de ir-e-vir está sendo violado. A senhora está vendo aquilo ali? É um fio com uma tomada. Eu vou desligar, e fica tudo certo. E me inclinei na direção da tomada. A gerente, de imediato, segurou o meu braço e disse: pode deixar que eu mesma desligo a máquina.

Moral da história: desempregue o sistema.