Traquinagem de meninos

Betoquinha chegou em casa naquele sábado, la pela nove horas, como das tantas outras vezes. Estávamos concentrado pra jogar as 16hs contra o time do Tadeu. Só esperando o almoço e depois a chuva cair prá termos a temperatura ideal para o jogo.

Veio o almoço, almoçamos sob a ansiedade do jogo, que era o menu principal das falas do Mano, do Vum e do Carequinha, filho da dona Amelinha, que estava por ali.

Não obstante esse momento, no intervalo após o almoço até a hora do jogo, Carequinha, eu e o Betoquinha resolvemos dar uma volta sob o sol. E seguindo na Bernaldo Couto, entramos na Almirante Wandenkolk . Conversando, conversando chegamos a Jerônimo Pimentel. Ficamos em baixo de uma acácia, com bastante chachos amarelos em frente a padaria do seu Portuga.

Quando Betoquinha ou Carequinha avistaram para o lado esquerdo da Jerônimo uma casa, um quintal abandonado. E nessa hora vimos várias árvores frutíferas. Um mamoeiro carregado, uma goiabeira e lá no fundo outras árvores, que ainda iríamos ver. O fato foi que nós, nos exasperamos. Aproveitando, que não havia ninguém na parada. O portão estava com um cadeado e aí na danação subimos nos engatando todo, pulamos a cerca pontiaguda, com varas de ferro e entramos. Indo no desespero em direção ao mamoeiro carregado de frutas, como se nunca tivéssemos visto nada igual.

Enquanto Betoquinha fazia a gangorra pra eu subir, Carequinha segurava a árvore pra não cair.

Num acesso de riso e desespero, eu subi, mas como era pesado e maior, que aqueles dois cai e pisei no chão de mal jeito, onde estava um caco de vidro, que cortou- me a veia lateral do pé direito. O sangue espirrava pra todo o lado, enquanto Betoquinha amarrava com um pedaço de pano qualquer, Carequinha nervosamente correu com medo não sei do que.

As frutas apanhadas ficaram por lá e Betoquinha, a troncos e barranco me ajudava a chegar em casa.

Pulando e pulando como um sapo, entramos pela porta lateral pra evitar maiores escândalos.

A gente pensava sempre que poderia resolver, mas embora fosse simples, necessitava de um cuidado ternamente especial. Aí não teve jeito, tivemos que contar pra mamãe, que disse logo:

- Onde vocês foram?... estavam bem aqui. O que que vocês tinham que inventar de ir tirar fruta no quintal dos outros?...

Nesse alarde vieram todos ver...papai, vovó, meus irmãos e alguns colegas que estavam esperando a hora do jogo. Alguns lamentavam, outros passavam o sermão e nós sem razão só ouvíamos calados. Enquanto mamãe foi com a dona Nazaré, vizinha e enfermeira, que veio pacientemente e fez o curativo.

Quando o relógio marcava três horas, parecendo as três horas da agonia, quase na hora do jogo, Betoquinha veio falar comigo se podia ir jogar, como se pedisse permissão, uma espécie de consideração, que eu sem problemas avalisei. Porém mamãe, que estava no quarto ao ouvir sentenciou:

- Negativo Betinho . Você não irá pra bola. Teu castigo vai ser esse. Quem manda vocês arrumarem. Estavam bem aqui, nem estão passando fome pra irem tirar frutas no quintal dos outros. Pode ficar fazendo companhia para o teu pareceiro.

Angustiado vi o Betoquinha entristecer, mas como uma criança levada, ao mesmo que chora ri. Não tinha o que fazer, o jeito era ficar ali e ele com resignação acabou ficando.

Quando a chuva das quatro horas em Belém caiu, eu na cama deitado e ele na rede atada a se embalar, podíamos ouvir o repicar da gotas entoando antigas canções de ninar, embaladas sobre o telhado, sob um toque refinado dos gritos do papagaio, do seu Waldemar, lá do outro lado da rua, ao pegado da casa do Pedrinho.

O jogo acontecia e nós confinados, acolchegados a repensar as ações, nos arrependiamos, na certeza de nossa amizade, mas naquele dia, o melhor foi adormecer.