A bagunça dos dias difíceis

Hoje foi a primeira vez, em muito tempo, que eu me permiti chorar.

Eu não só segurei o choro e tentei me distrair, ou fingir que estava bem. Chorei. A dor na garganta que se recusava a deixar fluir era muito intensa, mas eu queria chorar. Chorei.

A solidão bate uma vez e o medo se aflora nas pequenas esperanças que gerei. É terrível voltar pra casa, pro quarto tão cheio de coisa mas tão vazio de calor. Eu tenho brigado pra não voltar pra casa.

Eu entendo que, em um momento ou outro, nos encontramos sozinhos no final do dia ou no início dele. Principalmente, sendo solteira (de acordo com o Estado). Entretanto, eu não sei de nada agora e tento não me frear pra me expressar. Se eu continuar andando em cima de ovos comigo mesma, nunca me entenderei. Nunca vou saber o que eu realmente passo. Estou sempre me calando, sempre me invalidando, sempre me dando o dever de não sofrer.

Gostaria de ter prazer nas minhas coisas novamente, mas não consigo fazê-las. Gostaria de dançar sem sentir vergonha; de publicar sem medo de leituras atravessadas; de ler sem me ver como uma idiota; de correr sem temer olhares; de escrever sem parar; de divulgar meus talentos com coragem; de olhar nos olhos das pessoas com confiança; de amar sem medo de perder; de me amar e não me perder.

Eu não sei nem o que eu quero comer nessa noite.

Está calor, estou com fome. Eu não sei o que pedir e me encontro sozinha. A hora está passando e eu estou esperando por algo. Alguma motivação, algum gás. A cadeira me prende sem nenhuma amarra ou algema. Meus braços e minhas pernas se movimentam livremente, mas por que, então, é tão difícil eu me levantar e começar a noite de novo?

Ainda são 21h… Ainda há tempo de recomeçar.

A solidão me angustiou por tantos anos… por que agora é tão problemático?

Acho que experimentei da companhia, da parceira, da cumplicidade e não quis mais viver sem, mesmo que por apenas uma noite.

Consegue entender?

Eu gostaria de viver nos carros, nos ônibus e nos Ubers. Viver a caminho de algum lugar, sem nunca precisar ficar sozinha novamente.

E se minha vida for assim pra sempre? Se no final, essa solidão ainda se perpetuar nos momentos a sós, o que eu farei?

A eu de amanhã já sabe.

Mentira.

Eu sei.

Eu realmente sei.

Não gostaria de me agarrar ao material. Colocar coisas nesse espaço que eu gostaria que pessoas reais preenchessem. Isso nunca vai ser preenchido assim.

Então, me sento e leio a Bíblia. Então, recorro a Deus e entendo o sentido de tudo mesmo em lágrimas. Orando vejo que não estou sozinha e, mesmo que essa dor da ausência de pessoas me sufoque, no final do dia, sempre terei o ar puro da noite pra respirar… e o Espírito Santo estará lá… me amando.

…comprei pastéis.