NOVO NORMAL

É indeterminado o ponto a partir do qual, na segunda metade do século passado, os costumes foram sendo alterados drasticamente. Foi uma guinada de 180º em todos os setores da sociedade sem que se tenha a noção exata do que, em verdade, motivou ou foi o gatilho para tal.

A prontidão no respeito às responsabilidades e o cuidado pessoal, os relacionamentos, o ensino, a religião, os meios de comunicação, tudo enfim, entrou numa espiral de desmantelamento a partir do núcleo familiar.

Claro que não todas, mas as famílias relaxaram os cânones que até então eram preservados. Os papéis e os status foram largados nas prateleiras das coisas insignificantes e desmoronaram o respeito e a hierarquia.

Os desejos tornaram-se direitos e os deveres foram relativizados. As leis punitivas foram substituídas pelas leis lenientes à guisa falaciosa de promover a reinclusão na sociedade de personalidades deletérias sem a menor probabilidade de recuperação.

Passou a vigorar a lei de Gerson, aquela que diz – você gosta de levar vantagem em tudo – ainda que essa vantagem seja prejudicial à coletividade.

Os arautos da nova ordem, adotaram a progressão automática nas escolas, a reprovação tornou-se abominável, o estudo da linguagem e das matérias formadoras de mentes aptas para resolução de problemas complexos foram retiradas dos currículos para dar lugar à formação unicamente de militantes da ideologia marxista, os professores foram proibidos de transmitir os seus conhecimentos, exercer a autoridade inerente ao cargo e hoje são agredidos por jovens delinquentes municiados com as drogas cujo tráfico é incentivado por autoridades que são financiadas pelos carteis.

Os produtos tornaram-se descartáveis. Nada mais se conserta, joga-se fora e compra-se outro, mesmo porque os produtos de alto custo têm vida curta, programados que são para durar dois ou três anos.

A sociedade não é mais dividida pelos status sociais ou papéis desempenhados por seus membros, mas por guetos antagônicos onde, diferente dos Mosqueteiros de Dumas, são um contra todos e todos contra todos.

Os furtos ou roubos de baixos valores viraram sinônimo de esperteza e os dos muitos milhões, um bom advogado faz a justiça dizer que nunca existiram.

O pior disso é que vamos aos poucos perdendo a capacidade de nos indignar.

Afinal assistimos a tudo isso diariamente pelas diversas plataformas de comunicação, ouvimos os “especialistas” arranjando panos quentes para justificar o injustificável e torcer os fatos de tal forma que a vítima se torna o vilão da história enquanto o criminoso é inocentado de qualquer responsabilidade pelos atos que, a perseguição e o preconceito da sociedade, levaram-no a cometer.

Conforme previu Ruy Barboza, hoje o homem decente sente vergonha de ser honesto.

CITAÇÕES

Dumas, Alexandre – Escritor francês. Os três mosqueteiros Athos, Porthus e Aramis. Romance.

Ruy Barboza – Jurista e político. “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra; de tanto ver crescer a injustiça; de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.