Ciclos

Hoje eu encerrei um ciclo, desses difíceis de serem encerrados: foi o dia da vacina dos 10 anos do meu filho. Ele estava tenso para o evento, como esteve em todas as outras vezes, desde que adquiriu consciência de que uma agulha penetraria sua pele. Não o julgo, também tenho minhas reservas para agulhas. Mas o necessário se fez, então lá fomos nós.

Correu tudo bem, sem choros – o que ressalta o encerramento do ciclo. E para a alegria dele, a informação mais aguardada chegou: a próxima vacina, agora, só aos 25 anos! Saímos do centro de saúde eufóricos com esta informação, criando situações futuras para ela: "será que vale a pena fixar um lembrete na porta da geladeira?", ou "na próxima consulta talvez você já esteja casado!" , e ríamos com a possibilidade de todas elas.

Andávamos pelas ruas num companheirismo que chamava a atenção de quem, por nós, passava. Um companheirismo que um dia, talvez, por fechamento de algum outro ciclo, acabe.

Eu sei que faz parte da vida, mas existem portas difíceis de serem fechadas. E hoje eu fechei uma delas, a que dava acesso para conversas sobre o medo primitivo, por exemplo. Sobre a vergonha de se chorar à frente das enfermeiras e a necessidade de fazê-lo se assim desse a vontade. Sobre poder apertar a minha mão caso a dor fosse muito intensa. Nunca é, mas a gente sabe que sempre é. Sobre qualquer coisa que dissesse respeito ao sentimento que lhe causava tomar vacina.

Foi uma manhã gostosa, que me trouxe à memória tantas outras dessa finita trajetória. Mas acabou.

CamilaCamellini
Enviado por CamilaCamellini em 21/03/2024
Código do texto: T8024486
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