Obviedades

O meu filho, que já tem 10 anos, chegou outro dia da escola e me disse assim: mamãe, eu perdi a minha borracha. Eu, então, perguntei: é mesmo filho? Como foi que isso aconteceu? E o resto desse diálogo foi ele tentando me explicar o que ele não sabia explicar: a forma como a borracha havia desaparecido do estojo dele.

Dei-lhe uma borracha nova. No dia seguinte, meu filho, que já tem 10 anos e já leva o telefone celular para a escola, me mandou uma mensagem assim: mamãe, eu perdi a borracha na segunda aula. Eu não sei porque estou perdendo a borracha. É bem estranho. – confesso que, às vezes, calada, censuro a ingenuidade do olhar dele, que já tem 10 anos, para coisas óbvias. Mas, só respondi com a empatia que a vida não me tirou: filho, procure ao redor da sua mesa, deve ter caído por alí.

Mais tarde, já em casa, pegou um dos livros de dentro da mochila e percebeu que havia algo por entre as folhas. Abriu e era a tal da borracha, que havia sumido estranhamente sem ele se dar conta. Mistério resolvido.

Dia desses eu fui acordar ele de manhã para ir para a escola, e com o movimento corporal de quem tá vindo de um sono profundo, sua mãozinha saiu debaixo da coberta – pequena, miúda. - Assim como a borracha que estava escondida no meio do livro, percebi que meu filho tá escondido na infância. Ele, que já tem 10 anos, SÓ tem 10 anos. E eu precisei me atentar ao tamanho da mão para perceber algo que sempre foi tão óbvio.

CamilaCamellini
Enviado por CamilaCamellini em 04/04/2024
Código do texto: T8034315
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