O Violão Mudo

 

 

Me vejo numa sala, na antiga escola de japonês.
Estou de partida, tenho pressa. A mala vermelha pronta, coloco a bolsa por cima da cabeça quando vejo algo no chão. O violão velho com as cordas rotas, que me acompanhou por tanto tempo mas sequer é meu.
Alimentei por anos a ideia de que algum dia voltaria a tocar. No entanto, nesta viagem sem volta, só posso levar dois itens. Tu, violão e teus defensores, por favor me perdoem!

Sem vacilar, deixo-o ali mesmo no chão, como sempre esteve o pobrezinho: desajeitado e mudo. "Quem sabe tu também encontres uma alma que te mereça de verdade!"

Pego a mala vermelha, miro a porta aberta e luminosa, dou os primeiros passos quando desperto do sonho.
Nem me lembrava mais! Minha voz, um dia silenciada nesta mesma sala, jamais havia me deixado! Meu instrumento!!!
Ao ultrapassar aquela porta, o destino que me aguarda é cantarolar. Mal posso esperar pra compor a minha própria melodia!