SILÊNCIO

SILÊNCIO

Aos amigos que já leram a crônica referente ao Choro Bom, aqui no Recanto, viram que eu citei ter mostrado duas composições minhas para o Edyr Proença, no início de meus engatinhamentos como compositor. Uma delas, cujo nome não foi citado naquela crônica, foi o Silêncio.

O Edyr encantou-se com as duas. Na realidade acho até que me inspirei na versão bossanovística das composições dele pra gerar e parir o Silêncio.

Meu pai tinha uma granja no Lago Azul, um condomínio que ficava no município de Ananindeua e todo domingo íamos lá para tomar um banho de piscina e desfrutar da delícia daquele paraíso.

Mais próximo ao lago, muito grande, de águas escuras, ficava a casa do Edyr, quem sempre encontrava “passarinhando” quando dava minhas caminhadas matinais.

Os criadores de passarinhos chamam de passarinhar levar seus animais de estimação para, no ambiente natural, ouvirem e compartilharem seu canto com outros de sua espécie. Alguns poucos passarinheiros aproveitavam-se para capturar outros usando os seus como chamarizes. Mas, falando a verdade, o Edyr não fazia isso, somente levava os bichinhos para passear.

Lá foi que, ao mostrar essas duas músicas a ele, que me conhecia apenas como amante de música, entusiasmou-se e me incentivou fortemente a compor outras das centenas que tenho hoje.

A ideia de algumas composições nem sempre se sabe de onde vem. Nessa não houve nenhum caso real de origem. Apenas eu tinha ouvido, não sei quando nem onde, que o amor nunca morre de vez, pois sempre deixa sua semente.

Peguei a deixa, fiz a letra e em seguia a melodia. Mostrei ao restante da cáfila (nosso grupo musical) e todos gostaram, tanto que foi unanimidade inseri-la no nosso próximo (e primeiro) CD, que naquela época ainda estava na fase de sonho.

Quando o sonho começou a se tornar realidade o Edyr sugeriu que a interpretação fosse dada a uma cantora paraense que até hoje faz sucesso nacional e cujo pai era muito amigo do nosso parceiro de clube. A cantora com várias gravações de sucesso no gênero parece que não gostou da melodia e no CD “Clube do Camelo”, o Silêncio acabou sendo gravado com a minha própria voz. Gostei do resultado.

SILÊNCIO

(Almir Morisson)

Silêncio,

Morreu um amor verdadeiro

Pensou que por ser o primeiro

Pra sempre pudesse viver

Silêncio,

Cessou serenata pra lua

Calou um poeta na rua

Pensou também fosse morrer

Sozinho,

Jogou sua mágoa no pinho

Tirou dele um choro baixinho

Que é o modo melhor de sofrer

Sentido,

Tratou do seu peito ferido

Olhou na janela da vida

E viu que ainda havia luar

Contente,

Da dor renasceu diferente

Amor quando morre é semente

Pra gente poder florescer

Mosqueiro, 01/04/94

A cantora escolhida pelo Edyr talvez tenha achado que o velho compositor, novato no assunto, ainda estava muito verde para ter uma música sua gravada por ela.

Insisto que de fato não houve um motivo real de inspiração para fazer a letra. Apenas experimentava novos rumos na minha atividade musical e matava a curiosidade de ver como me saia nesta nova tarefa. Assim, pelo menos, o Silêncio serviu para consolidar a minha iniciação musical de compositor e cantor.