VISITA AO PASSADO

O ano era 2022, e lembro-me que em algum momento lá, de reflexão e questionamentos sobre a vida, dei conta de que não sabia os nomes dos meus bisavós, fossem eles os paternos ou os maternos, e não lembrava de algum dia ter perguntado aos meus pais, sobre os avós deles, nomes, de onde teriam vindo, etc., e me vi diante de uma lacuna familiar, e só sabia da provável origem italiana, mas zero certeza de que isto fosse correto.

Comecei buscando alguma informação na família, mas o máximo que consegui foi uma cópia de uma certidão de casamento de meus avós maternos, mas os nomes dos meus bisavós estavam “aportuguesados”, o que não ajudava muito, mas consegui avançar um pouco, pelo menos neste ramo da família.

De qualquer forma, sem mais informação, isto me deixava frustrado, sem contar que comecei a sentir um baita arrependimento por não ter pensado nisto antes, quando ainda meus pais eram vivos, quando poderia ter pelo menos tentado obter alguma informação que fosse base para me aprofundar em pesquisas.

A minha sorte começou a mudar, numa conversa com um colega de trabalho, sobre a minha frustração familiar, de não saber nada sobre os meus antepassados, e olha que só procurava descobrir as origens de meus bisavós. Nesta conversa, ele me indicou um site de nome familysearch.org, do qual ele fizera uso, e teria sido surpreendido com informações obtidas sobre seus antepassados.

Fiz meu cadastro no site, com as informações mínimas que tinha em mãos, e durante alguns dias nada acontecia, e já comecei que a achar que não ia dar em nada, até que um determinado dia, minha árvore genealógica havia sido atualizada, e aparecia o nome dos meus bisavós paternos, Giuseppe Zani e Maria Carletta (o sobrenome Zani não está escrito errado, e esta foi a outra surpresa).

Pesquisando mais daqui e dali, encontrei uma informação de que o Museu a Imigração, em São Paulo, detinha um banco de dados, sobre imigrantes que passaram naquele local, antes uma hospedaria onde ficavam por alguns dias, até encontrar um destino, e que talvez pudesse me ajudar.

Entrei em contato por e-mail, passando os nomes e recebi uma resposta automática para aguardar alguns dias, e eis que a resposta chegou confirmando que meus bisavós paternos haviam chegado ao Brasil no dia 18 de abril de 1885, com duas filhas, procedentes da cidade de Gênova, na Itália. Além desta, outras informações foram passadas, incluindo o destino da família: a cidade de Cravinhos, no interior do estado de São Paulo, provavelmente para trabalhar em alguma fazenda de café.

Não demorou muito tempo, e minha árvore foi novamente atualizada, e aí foi uma chuva de surpresas, pelo lado materno, quando tive à minha frente, os registros dos nomes, ano de nascimento e local de onde se originavam na Itália, por parte de meu avô materno, que incluía, os bisavós, trisavós, pentavós e até meus hexavós, que haviam nascidos lá no longínquo ano de 1.728, de nomes Domênico Michele Campaniello e Margherita Cappariello, e aqui mais uma surpresa absurda, de descobrir a grafia correta do sobrenome de minha mãe, que assinava Campanelli.

Da mesma forma, minha árvore foi atualizada com os nomes dos outros meus bisavós, que também tinham origem na Itália, por parte de minha mãe, e da Espanha, no caso de meu pai, concluindo assim, que tenho três quartos de sangue italiano, o que justifica torcer pelo Palmeiras, e um quarto de sangue espanhol, o que justifica eu ser “teimoso como uma mula”.

Tinha, então, montado minha árvore genealógica, e perdi a conta de quantas vezes fiquei olhando para ela, pensando em como pude, a tempo, encontrar os nomes e origens de meus antepassados, mas valeu demais, dispender tanto tempo para isto.

Tinha algo ainda que precisava fazer, que era uma visita ao Museu da Imigração, e aproveitei uma tarde de um feriado, neste ano, e parti para lá, imaginando encontrar um prédio mau cuidado, caindo aos pedaços, mas fui surpreendido por algo totalmente ao contrário.

Era muito bem conservado, com um jardim lindo e enorme, uma maquete na entrada, audiovisuais, tudo muito bem cuidado e preservado. Meu interesse, além de uma visita ao conjunto arquitetônico e suas histórias, era saber se possuíam registros documentais que confirmariam que meus bisavós teriam estado naquele local, vindos da Itália e Espanha.

Numa área dedicada exclusivamente para pesquisas, aguardei minha vez de ser atendido, e quando chamado, fui claro com a atendente que meu objetivo era um só: saber se meus bisavós teriam hospedado naquele local, quando da chegada ao país, o que foi confirmado, após pesquisa numa base de dados, exceto no caso dos bisas espanhóis, que não foram identificados como tendo passado por ali.

Fiz mais algumas perguntas e parti para a visita, propriamente dita, para conhecer os vários ambientes do prédio, como os quartos onde os imigrantes dormiam, área de descanso, do refeitório onde faziam as refeições, muitos objetos trazidos dos países de origem, etc.

Parava em cada um dos ambientes, e ficava imaginando meus antepassados por ali conversando, depois de todos os perrengues de uma viagem de cerca de 50 dias em um navio a vapor, vindos de um país de cultura completamente diferente daqui, para começar uma vida nova, deixando familiares para trás, certos de que nunca mais os veriam. Me senti bastante emocionado ali, com a chance de ter estado num local onde meus antepassados um dia estiveram.

Minha pesquisa ainda não teve fim, com a intenção de buscar mais nomes, mas já foi suficiente para despertar um projeto de, quem sabe algum dia, visitar as regiões na Itália, de onde teriam saído meus antepassados, e talvez encontrar algum parente distante por lá.

Afinal, como disse um um dia o poeta Fernando Pessoa: Navegar é preciso, viver não é preciso...

Segue o barco...!

Abril de 2024

ZAINE JOSÉ
Enviado por ZAINE JOSÉ em 13/04/2024
Reeditado em 20/04/2024
Código do texto: T8040734
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