Se a Bandeira do Brasil Falasse...

De tanto receber e de ler essas mensagens curtíssimas com a palavra de ordem: “essa é a minha bandeira”; de tanto assistir a se cobrirem e a utilizarem de seu nome em vão, tal como manto e o nome de Deus, foi irrompendo em mim a questão o que diria a bandeira, se falasse? E borbulhou, como em água fervendo, sua fala.

Sou o símbolo da nação brasileira e tenho tatuado, com o branco da paz, no meu coração azul, cor da real nobreza: “ORDEM E PROGRESSO”.

Ordem de organização, de conjunto de leis voltadas à construção da justiça, respeito às leis, de organização do território, dos poderes, dos sistemas sociais políticos, econômicos...

Progresso de desenvolvimento social, econômico e político.

Desenvolvimento social: trabalho, educação, alimentação, habitação, mobilidade, transporte, segurança, cultura, esporte e lazer.

Desenvolvimento econômico: produção racional e sustentável de riquezas capaz ou superior para viabilizar o desenvolvimento social e manter um Estado eficaz na facilitação e participação na organização e progresso da nação que simbolizo.

Desenvolvimento político: capacidade para implantar um sistema que facilite o equilíbrio entre os três poderes e o acompanhamento da sociedade sobre os mesmos; capacidade dos partidos criarem e do povo reconhecer "projetos políticos"; capacidade das grandes lideranças carismáticas renunciarem ao "populismo", manipulador das massas como se fossem gado; educação política de legisladores e executivos, para superarem vícios impeditivos desse desenvolvimento; educação política para formar parâmetros parceiros desse desenvolvimento nas suas escolhas pelo voto.

Se eu, bandeira nacional, fosse de fato amada, respeitada e empunhada pelos políticos e pelo povo, meu lema central, a tatuagem no meu coração, teria tido êxito e não viveríamos essa situação.

União e maioria dos estados com “gastos e dívidas vampiros”.

Áreas urbanas tomadas pelo crime organizado e agindo junto aos que ali vivem, como se governo fossem.

Fome, analfabetismo, desemprego, epidemias, insegurança institucional e pública bem como com o crime institucional organizado, a corrupção.

Presidencialismo de cooptação, no qual o presidente da Câmara tem poderes para fazer os presidentes dessa república, apodrecida e desgastada, ajoelharem-se para pedir benção.

Grande desordem, regida por impunidade ampla e generalizada.

Se eu, bandeira nacional, fosse de fato amada, respeitada e empunhada pelos políticos e pelo povo, meu lema central, a tatuagem no meu coração – ORDEM E PROGRESSO teria tido êxito e não presenciaria, tantas e tantas vezes (algumas delas ridicularizada como manto), um povo que, em vez de se mobilizar saudável e pacificamente, para exigir ações voltadas ao desenvolvimento, social, econômico, ou político, se divide numa polaridade doentia, esquerda, ou direita, "lulismo", ou "bolsonarismo", mobiliza-se algumas vezes por “causas corporativas” mas, na maioria das vezes. para venerar e idolatrar seus mitos.

Para finalizar expresso meu descontentamento e tristeza com:

Essa divisão polar e alienada do objeto da política; esse relacionamento doentio entre lideranças e povo para o qual somente encontro justificativa nas teorias psicanalíticas, ou nas de carma e reencarnação;

Esses gestos que me reduzem a ser bandeirola individual, ou de grupo. Sou bandeira nacional, símbolo da nação brasileira.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 14/04/2024
Código do texto: T8041299
Classificação de conteúdo: seguro