Os Meninos da Vila

Por questões, que a gente não entender a vida , ao redor segue, num ambiente que se transforma, nos levando de um lugar para o outro sem a nossa interferência. Assim aconteceu com Albertinho, que saíram do aluguel, no quartinho da Bernardo Couto mesmo sob protesto de quem gostava deles pra irem residir na rua do Fio, periferia do telégrafo, que depois de cinco anos, acabaram voltando a Bernaldo Couto, agora próximo a Doca, passando a Vila Paulina, numa casa atrás de outra casa, como uma vila de três imóveis em madeira e de novo em aluguel.

Ali Albertinho recomeçou sua vida e olhando ao redor, sem os seus primos próximos, pois haviam ido passar natal e ano em Manaus, resolveu conhecer o pedaço e desceu a vila Paulina, num sábado, onde a criançada estava solta feito formigas fora de um formigueiro.

Como um bom menino que era, rapidamente fez amigos. Naquele dia brincou com eles de totó e foi convidado a brincar também de Pelebol, na casa de um deles.

De tão divertido, que estava brincar com eles, que também se identificaram com Albertinho, que um deles disse:

- Pessoal vamos brincar de autorama?

Como uma coisa normal no mundo deles, que eles três, amigos a muito tempo entraram na casa com naturalidade, enquanto Albertinho respeitando espaço, afinal acabavam de o conhecer, se reservou na espera, pré alertado por um deles, que disse:

- Fique ai tá... vamos buscar o brinquedo.

Já tomado de felicidade, Albertinho, garoto pobre ficou em êxtase, porque nunca tivera oportunidade de brincar com um brinquedo, que era o sonho de consumo de qualquer criança naqueles anos oitenta.

Ele viajando no sonho de uma expectativa, de brincar com algo inusitado e depois falar aos seus amigos de infância da rua do fio como era a emoção, enquanto seu novos amiguinhos arrumavam o brinquedo para trazer, quando foram interrompidos, pelo irmão mais velho do dono do autorama, que disse:

- Pra onde vocês vão com isso?

O casula então respondeu:

- Vamos brincar no pátio, com o nosso novo amigo.

Intensificou o jovem:

- Que amigo já?

Outro coleguinha falou:

- Nosso amigo ai de perto da vila.

Que o jovem protestou:

- Não vão levar coisa alguma daqui. Podem ficar ai, que vou ver esse moleque ai fora.

E a passos largos chegou a porta, ainda entre aberta e olhando dos pés a cabeça Albertinho, com um ar vaidoso e altivo puxou do chão a toalha do jogo, recolhendo os bonecos e a bolinha do Pelebol. Entrou batendo a porta e em gritos frenéticos chamou sua mãe ao ridículo e juntos compactuando da discriminação ou ignorância das classes, se protegendo de algo, através da janelinha daquela porta verde, em coro gritaram ofensivamente:

- Cai fora daqui moleque. Não me apareça mais por aqui.

Albertinho, entristecido e escorraçado levantou atônito e magoado, sem dizer nada foi saindo devagar, há tempo de ouvir a mãe aos gritos proibir até quem nem era seu filho de se misturar com pé rapado, com um negrinho, filho sem pai, que não tinha onde cair morto.

Meio que sem entender, o porque dos porquês, o menino falou a sua avó dizendo:

- Vó eu fui expulso da casa de uns meninos ai da vila Paulina. Não sei porque tanta raiva, eu não fiz nada.

E sua avó, por ignorância da razão, pela simplicidade da situação que viviam amigavelmente disse a ele:

- Meu filho, deixe isso pra lá. Brinque aqui com os seus brinquedinhos, você não precisa passar por isso.

Obediente ele acatou a instrução e brincando com as suas invenções sentia na cabeça a questão, que o fez no outro dia procurar saber como os meninos estavam e ai veio a decepção.

Os meninos estavam na vila brincando de totó e ele se aproximou e falou pra sentir a reação:

- bom dia como vocês estão?...

Um bom momento de silêncio, sem sequer uma resposta ouvida. O som do Djavan estava no ar em par com aquele aroma de comida de gente grã-fina, como a resposta das bocas silenciosamente forçadas não foi o suficiente, um deles despachou:

- Vai embora, a gente não pode mais falar com você.

Entristecido, com a atitude dos meninos, afinal eram eles coleguinhas, ele ainda teve forças e perguntou:

- Nem falar pode?

Eles responderam com o silêncio de suas vozes e a ignorar a presença de Albertinho, que foi saindo feito fumaça no ar da desgraça.