A criatividade em um mundo para resistir

O que seria a criatividade além da definição que o dicionário ousa dizer? Seria a inspiração divina dos românticos? Ou o puro suco da racionalidade dos realistas? Eu não sou nem doida de tomar algum lado com tanta fidelidade. Prefiro me observar. Sentar e me observar.

Não tenho criatividade já faz umas semanas. Se eu depender dessa dádiva cair no meu colo, não tenho previsão de publicação. Se eu depender totalmente dessa inspiração, acho que quando ela vier nem tempo eu terei para reduzi-la em letra.

Ah, não sei.

Eu não consigo ter criatividade. Se eu esperar apenas do meu processo cognitivo, vou escrever qualquer coisa muito bem estruturada. Qualquer coisa. Ou talvez nem isso, do tanto que meu cérebro anda sobrecarregado para pensar sobre qualquer coisa que eu realmente esteja querendo fazer.

Ah, não sei, sabe?

Eu quero escrever bem e escrever coisas boas, mas esses dias estive tão cansada, com sono, agitada pelo açúcar, tomada por redes sociais. A faculdade me tomou pra ela e eu não consigo ler ou consumir nada além de artigos e livros acadêmicos. Não tenho suportado o academicismo. Não ando tendo muita bagagem para criar ou transformar uma realidade qualquer sobre o papel.

A minha rotina desesperada está me deixando desesperada. Desesperada para fugir dela caindo em suas próprias engrenagens, em suas próprias armadilhas. Mal tenho conseguido assistir a uma série ou ler um livro da minha crescente lista. Me chateio porque mal tenho conseguido ler a Bíblia, que é a coisa mais importante pra mim.

E, caramba, que bosta, eu caí.

Eu caí e idolatro diariamente essa rotina de quase 12 horas. Substituí tudo por ela, até o alimento da minha fé. Vivendo em um loop sem fim; virando dias infinitos e iguais.

E aí, eu perco a criatividade. Perco a vontade e a autenticidade. Não vejo, não leio; não canto ou danço; não assisto nem reflito. Apenas sobrevivo. E, apesar de ser levada pela manada das horas desse sistema infernal, é cansativo não andar com as próprias pernas.

Eu quero escrever e ler. Quero criar, mas para criar eu preciso sair dessa roda que me leva a lugar nenhum. Talvez para uma cadeira na sala branca do psiquiatra que eu tenho relutado tanto em ir.

Quero poder usar meu cérebro de forma saudável e o mais livre possível dessas redes com timelines infinitas. Quero comer comida de verdade. Quero ir ao cinema e apreciar meus filmes asiáticos favoritos.

Assim, quero ser capaz de pensar em estrutura e escrever coisas produzidas por esse meu processo mental. Quero ser capaz de viver vividamente, criticamente e belamente dentro do que posso e tenho e, então, ter sobre o que falar com a minha mente.

Isso é resistir e andar com as próprias pernas em um sistema que quer automatizar tudo e todos.