Trocados

22/02/2017

 

Os homens são "de bem"

Os meninos são "do mal"

 

 

Ao sabor dos anos, dos dedos e das folhas de papel, descrevi algumas, e vivenciei milhões, as aventuras e imagens dos meninos nas ruas, em seus sinais: limpadores de vidro, malabaristas, garupas de moto, meus futuros colegas pintados de verde, penduradores de saquinho em retrovisor, distribuidoras de panfleto, vendedores de pipoca rosa e biscoito globo, ou de guarda-chuvas chineses, guardanapinhos (os futuros flanelinhas), empurradores de 

carrinho com isopor de cerveja, e outros mais.

 

Desta gente da rua, o primeiro a me impressionar foi um ex-deficiente físico (hoje PNE) que, numa esquina da Tijuca, ganhava a vida em trocados gritando "pano de 1, pano de 2, flanela a 1 real".

 

Assim como os panos da minha lembrança, lavam-se os reais.

 

Tem chuva pra isso nas ruas.

 

Tem lagrima pra isso nas casas.

 

Tem lava-jato.

 

O que falta aos meninos, sobra aos milhões ou bilhões aos homens e seus bancos, mesmo que de réus.

 

Em troca, e de sobra, os meninos ainda são dignos.