Hoje, venci o tempo

Hoje venci o tempo e completo 72 anos.

Aos 17 não achei que viveria tanto.

50 me parecia muito.

Agora, quando tenho menos futuro que passado, quero mais.

Permitam-me compartilhar com vocês esta data.

E o faço com a poesia da chilena Violeta Parra, com a qual me identifico, em especial em duas de suas obras, Volver a los 17 e Gracias a la vida, que transcrevo abaixo, traduzindo-as e adaptando-as conforme as compreendo.

Volver a los 17

Voltar aos dezessete, depois de viver um século

É como decifrar sinais sem ser sábio competente

Voltar a ser de repente tão frágil como um segundo

E se perceber pequeno frente a Deus

Isso é o que eu sinto neste instante fecundo.

...

O arco das alianças penetra no meu ninho

E com todas as suas cores passeia por minhas veias

E a dura corrente com a qual o destino nos prende

É como um diamante fino a iluminar minha alma serena.

...

Voltar aos dezessete

Nos afasta docemente dos rancores e violências

Só o amor com sua ciência nos torna tão inocentes.

...

e

Gracias a la vida

Agradeço à vida, que me tem dado tanto

Me deu dois olhos, que quando os abro distingo perfeitamente a noite do dia

E no alto céu o seu fundo estrelado, e nas multidões aqueles que amo

Me deu o ouvido, que com seu tamanho, grava dia e noite, grilos e canários

Martelos, turbinas, latidos, aguaceiros

E a voz terna de quem amo

Agradeço a vida, que me tem dado tanto

Me deu os sons, o alfabeto e as palavras que eu penso e falo

Me deu a marcha de meus pés cansados

Com que atravessei cidades e poças, praias, desertos, montanhas, planícies, a casa, a rua e o quintal

Agradeço a vida, que me tem dado tanto

Me deu o coração que perde o compasso quando vejo o bem tão longe do mal

Me deu o riso e me deu o pranto

Estes dois materiais que formam meu canto

E o canto de vocês que é o mesmo canto

E o canto de todos que é meu próprio canto.

Obrigado.