O que deu na nossa cabeça? Por que o medo de sofrer sobrepõe a busca da felicidade?

Conheci a L* por acaso. Gostei dela de cara e senti que poderia me envolver emocionalmente com ela. Uma parte minha acredita que ela pense o mesmo, porém entre nós, nossas experiências, ou melhor dizendo, as correntes que puxamos, se colocam diante de nós como obstáculos que nós mesmos nos criamos.

Eu gosto dela, não sei se a amo, mas gosto de estar perto dela. Sua companhia me faz bem porque eu aprecio poder conversar com alguém que saia de si mesma e tenha uma visão e opinião sobre as coisas. Conversas que constroem ampliando o entendimento e a reflexão são edificantes.

Porém L* tem suas correntes. Todos temos e arrisco dizer que todos nós queremos nos desfazer delas, mas estamos tão bem presos que o trabalho de quebra-las requer muitas vezes um empenho que nem todos estão dispostos e preparados a dar. 

Ela se magoou no passado. Foi enganada, roubada inclusive e naturalmente aquilo a marcou. Sabe lá quantas mais experiências difíceis compõe a formação de sua personalidade, comportamento e visão de mundo. Seria pretensão da minha parte achar que tudo se resume a uma. As vezes elegemos uma, isso eu concordo, mas só por necessidade de estabelecer um ranking. No fim todos somos um complexo conjunto de certezas advindas dessas experiências boas e ruins.

As correntes emocionais dela a impedem de demonstrar carinho. Ela tem uma visão acinzentada da realidade o que afeta sua percepção e julgamento.

Por pensar que todo o homem sem exceção só pensa em sexo e é capaz de qualquer coisa para obtê-lo, inclusive declarar falsamente portar sentimentos que verdadeiramente não têm, toda e qualquer investida (não gosto do termo) tem por único objetivo, na visão dela, o sexo. E eu não teria escrúpulos, segundo essa perspectiva, de iludi-la, se necessário, para alcançar tal objetivo.

Nem quero imaginar o que ela deve ter passado para chegar a uma conclusão generalizada e tão pessimista sobre nós homens. Mas sei que não foi nada fácil e lhe deve ter custado muitas lágrimas.

Bem, como toda mãe diz e a minha não é exceção, eu não sou todo mundo. Mas pertenço ao grupo geral.

Qualquer pessoa minimamente sã sabe que não justifica destratar o próximo por causa do anterior. Em teoria todos sabemos... em teoria.

Na prática o contrário pode se mostrar de várias formas. O leitor sabe que estou falando a verdade. Abra o YouTube e pesquise coaching de relacionamentos. Sãos vários com métodos, scripts e receitas para a conquista. A sinceridade e espontaneidade caem por terra em nome da preservação emocional do indivíduo. Pergunto-me como sente-se uma mulher sendo tratada como um alvo. É assim que me parece. Se errar, tente outra(o). Simples, superficial e direto. O medo de sofrer criou um mercado. Nunca aquele filme Hitch fez tanto sentido. 

Talvez seja correto afirmar que tudo é uma manifestação inconsciente de nossos medos e inseguranças. Talvez ir de peito aberto a uma oportunidade depois de sofrer decepções possa não ser a ação mais inteligente, ou a mais segura, afinal quem deseja repetir uma dor já enfrentada no passado? Desta forma buscar essas receitas ou métodos, como queira chamar, são uma alternativa mais segura de alcançar com sucesso o que se quer.

Mas o que se quer alcançar de verdade?

Deixando de lado o coaching, pode o indivíduo achar justo que o próximo pague o erro cometido pelo anterior. 

Ora, que chore o outro ao invés de mim. Nos tornamos egoístas, por medo, e vemos sentido nesse egoísmo aplicado a uma relação a dois. Como a palavra egoísmo se associa à relacionamento só Freud pode explicar... ou nem ele.

De qualquer maneira precisamos tomar cuidado. Nossos medos emperram a jornada evolutiva, distorcem a lógica e nos fazem crer que viver num casulo emocional é a melhor maneira de seguir a vida. Levantar a bandeira do amor próprio é louvável desde que isso não te isole do mundo. Lembremos de Paulo "tudo me é lícito, mas nem tudo me convém".

Vou encerrar o assunto sem uma conclusão ou pormenorização do tema para deixar aberta a discussão e a reflexão.

Verdade seja dita: eu não faço ideia da melhor maneira, e a menos clichê, de encerrar esta reflexão que me propus fazer.

Talvez eu continue desenvolvendo o assunto, talvez deixe pra lá. Hoje o assunto me faz pensar, amanhã não sei dizer.

John Raskólnikov
Enviado por John Raskólnikov em 21/04/2024
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