Verbo de ação

A doença: uma pausa forçada. Bênção ou maldição? Sabendo aproveitá-la, uma oportunidade de reflexão. Me vi, obrigada pelas limitações do corpo, refletindo sozinha. Nesses momentos, não senti a doçura da solitude, mas tão somente o amargo da solidão. Por mais amigos e entes queridos que você tenha, há momentos que são apenas seus, dores e dificuldades que serão somente suas. A vida não pára, os outros estão vivendo as próprias vidas. É você, por você. Você com Deus. Sim, já é o suficiente, mas mesmo sabendo disso, dói. Nessas horas, impossível não lembrar de quando era criança e sentia o cuidado dos meus pais. Me lembrei, emocionada, de quando meu pai ia até o meu quarto verificar se eu estava agasalhada. Lembro de perceber que ele embrulhava meus pés de uma maneira a evitar que o cobertor saísse do lugar. Eu percebia e não dizia nada, mas me sentia amada. Anos depois, quando ele adoeceu e encontrava-se acamado, fiz o mesmo por ele várias vezes. Meu pai, com um duplo diagnóstico, câncer e demência, me deixava em dúvida se ele se sentia também cuidado e amado, pois já não se expressava como antes. Independente disso, me senti feliz em retribuir quando ele mais precisou e acredito que, de alguma forma, também se sentiu amado. Amar é cuidar. Presença. Amar é verbo de ação, que se conjuga idealmente no presente.