Entre Sem Bater - Partido da Propriedade

Gore Vidal disse:

"... há apenas um partido nos Estados Unidos: O Partido da Propriedade. O qual tem duas facções: Republicanos e Democratas ..."(1)

Com toda a certeza, é muito instigante, até pelas manifestações que observamos, escrever a partir de frases e pensamentos polêmicos. Gore Vidal viveu toda a política estadunidense do Século XX e suas críticas são um deleite para quem quer alfinetar políticos daquele país. Como se não bastasse, é particularmente provocador debater sobre suas frases com aqueles que utilizam de falácias e atacam a pessoa. O tema-chave (propriedade) tem uma utilização bem específica e que produz efeitos em muitas nações, inclusive no Brasil. Seu humor, satírico, irônico e sarcástico provoca a ira em seus interlocutores, repetir suas frases provocam descontrole nos interlocutores.

PARTIDO DA PROPRIEDADE

Em primeiro lugar, é necessário contextualizar e definir as acepções que utilizamos numa frase sarcástica e verdadeira.

Propriedade, na frase de Vidal, tem uma acepção específica, ou seja (a partir de dicionários):

Algo que se possui, se tem a posse exclusiva; bens.

Direito de usufruir, utilizar e dispor de um bem, podendo retirá-lo da posse de quem o possui ilegalmente. [Jurídico]

Adicionalmente, complementando sua frase, a crítica que faz aos dois partidos estadunidenses, extrapola para outras nações e sobre elas.

PENSAMEN|TO DE VIDAL

"Há apenas um partido nos Estados Unidos: O Partido da Propriedade. O qual tem duas facções: Republicanos e Democratas. Os Republicanos são um pouco mais estúpidos, mais rígidos e doutrinários no seu capitalismo estilo laissez-faire(*). Já os democratas são mais espertos, mais charmosos e mais corruptos."

Adicionalmente, ele sugere que o partido da propriedade ama a guerra, o dinheiro e se imiscuir nas políticas de outras nações.

Assim sendo, nações periféricas, como o Brasil, sofrem influência do "Partido da Propriedade" e conseguem fazer a cabeça de muita gente. O escândalo recente que resultou no processo de nome "Lava-Jato", assim como o golpe de 1964, tem o dedo sujo dos EUA.

POLÍTICA ESTADUNIDENSE E RAMIFICAÇÕES TUPINIQUINS

É interessante e bastante provocador utilizar a crítica mordaz de Vidal, um nativo político dos EUA, para mostrar o Brasil de hoje em dia.

Inquestionavelmente, nos Estados Unidos, a política é um duopólio entre o Partido Democrata e o Partido Republicano. Com toda a certeza, uma dicotomia que, na superfície, parece representar diferentes ideologias e visões para aquele país. No entanto, Gore Vidal apresentou uma perspectiva intrigante e que provocou, entre eles, muita discussão.

Desta forma, independentemente das diferenças retóricas, ambos os partidos servem aos interesses corporativos e à manutenção do poder. E tanto faz se for preciso avançar sobre democracias fora da América do Norte para conseguirem se manter no topo. A Guerra Fria e o Macarthismo(2) criaram instâncias intervencionistas que, atualmente, influenciam nas políticas de muitas frágeis democracias.

Vidal argumenta que, nos bastidores da política americana, há uma busca implacável pelo controle, pela dominação e propriedade. Quem sabe eles querem poder não apenas sobre os cidadãos americanos, mas sobre nações inteiras ao redor do mundo. Essa busca de poder avança, de fato, pela influência e pelo poder econômico das corporações, que exercem uma pressão sobre o sistema político. Desse modo, eles garantem que as políticas públicas atendam aos seus interesses comerciais, militares e de domínio. Raramente, os objetivos e resultados atendem às necessidades e direitos dos indivíduos comuns.

O QUE É BOM PRA ELES ...

Aqui, no Brasil, vemos exemplos claros de partidos políticos e indivíduos que alinham-se a estes interesses corporativos estadunidenses. Surpreendentemente, estão dispostos a sacrificar o patrimônio e os interesses nacionais em prol do lucro e do poder pessoal.

Temos, por exemplo, a entrega de patrimônio nacional como o Lítio, que utiliza-se em carros elétricos para conglomerados estadunidenses. Empresas multinacionais frequentemente expandem sua influência global contando com o apoio de políticos e governos submissos. Estes políticos facilitam a vida dos achacadores, sem dúvida, através da troca de favores políticos ou financeiros.

No Brasil, vimos casos em que recursos naturais valiosos viram propriedade de empresas globais sem benefícios para o país ou nossa população. Os modelos econômicos que faziam das colônias fonte de matéria-prima para o império continuam. O Brasil exporta produtos brutos e compra tecnologia que se constrói a partir destes produtos, muito mais caros.

Como se não bastasse, a privatização de empresas estatais e a flexibilização das regulamentações ambientais só favorecem as oligarquias. E, desta forma, muitas destas trocas comerciais que favorecem esses interesses corporativos, atuam em detrimento do bem-estar social e ambiental.

POLITICA E ECONOMIA

A entrada do Brasil no bloco BRICS(3) provocou verdadeiras catástrofes em alguns setores da economia tupiniquim. Infelizmente, na esteira da operação lava-jato, políticos que sempre estiveram à serviço do partido da propriedade dos EUA, cresceram. Durante o período recente que estiveram no comando do país, setores da economia fundamentais para  população foram entregues às oligarquias.

Além disso, a influência política e econômica estadunidense se estendeu sobre as agendas políticas do Brasil, de acordo com seus próprios interesses. Certamente, as políticas externas que priorizam alianças estratégicas e econômicas contra o imperialismo da propriedade, perdeu seu espaço.

No cenário político brasileiro, essa influência agiu em várias frentes. Desde acordos comerciais beneficiando empresas de alta tecnologia até intervenções políticas, inclusive no Poder Judiciário. Certamente, com objetivo de manter regimes e governantes simpáticos aos interesses dos Estados Unidos, desprezando o povo brasileiro.

O MUNDO GIRA

Assim sendo, surge a necessidade urgente de uma análise crítica da política e do sistema econômico global. Precisamos questionar quem realmente se beneficia das decisões políticas e econômicas, e quem fica de mãos abanando. É fundamental buscar alternativas que coloquem os interesses das pessoas comuns e do meio ambiente em primeiro lugar. Fatos recentes, como guerras globais e catástrofes parecem priorizar o lucro e o poder de uma elite em detrimento da maioria.

Nesse sentido, a visão de Gore Vidal sobre a política nos Estados Unidos(4) como um jogo de interesses corporativos é real e atual. Desse modo, fica o lembrete oportuno de que a luta pelo poder não é apenas uma questão de partidos políticos e eleições. É, sobretudo, de sistemas e estruturas que perpetuam desigualdades e injustiças.

Enfim, é crucial desafiar esses sistemas e buscar alternativas para as necessidades e os direitos de todos os cidadãos. As decisões políticas e econômicas devem ter uma explicação que vá além da baixa qualidade do jornalismo brasileiro. Por outro lado, a educação digital, que inclua uma mudança radical de comportamento, deve prever punição para mentirosos e enganadores.

Infelizmente, a cultura do brasileiro é a de levar vantagem e, se for possível, se locupletar junto com seus ídolos de estimação. Como na anedota de um certo grupo de brasileiros, se posso ferrar meu vizinho para melhorar de vida, então vou ferrá-lo. O Partido da Propriedade, se nos EUA estão entre Democratas e Republicanos, no Brasil tem ao menos uma dúzia a representá-lo. Se, anteriormente, políticas e programas partidários tinham eleitores, agora, as pessoas levam votos para ideologias. Desse modo, fenômenos como Tiririca, Nikolas e outros só fazem crescer o descrédito na Política com "P" maiúsculo.

"... o Partido Republicano é uma mentalidade. Eles amam a guerra! Eles amam dinheiro! Eles pretendem resistir com todas as conexões que possuem, por meio de seus vários agentes." (Gore Vidal)

"Amanhã tem mais ..."

P. S.

(*) Laissez-faire é uma expressão francesa que significa literalmente "deixai fazer". Considera-se um dos símbolos da economia liberal na qual se baseia uma vertente do capitalismo.

(1) "Entre Sem Bater - Gore Vidal - Partido da Propriedade" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/05/10/entre-sem-bater-gore-vidal-partido-da-propriedade/

(2)  "Entre Sem Bater - Joseph McCarthy - Macarthismo" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/03/20/entre-sem-bater-joseph-mccarthy-macarthismo/

(3) "Entre Sem Bater - Vladimir Putin - BRICS" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/07/27/entre-sem-bater-vladimir-putin-brics/

(4) "Entre Sem Bater - Spike Lee - Estados Unidos" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/03/14/entre-sem-bater-spike-lee-estados-unidos/