A Menina que Roubava Livros

Hoje eu chorei uma revelação e uma saudade inevitáveis. Os nossos dias são pesados de desinteresse e cegueira. Mesmice. Uma burrice tão ingênua que faz entristecer. É o peso que carregamos de um ar de absoluta confiança em nossos princípios, certezas absolutas de identidade pessoal. Tudo clichês. Tudo mentira. Efígies, quadros pintados por nossa ambição. Terminei de ler o livro “ A menina que roubava livros”, e a frase que ainda está a ressoar em meus ouvidos e inundar a minha boca de puro torpor é “ O ser humano me assombra”. Foi assim que o autor concluiu seu livro. Sinto uma falta estranha dos minutos que antecederam esta frase. Falta do ignorá-la. A revelação de que sou parte dessa humanidade assombrosamente capaz de feitos tão honrosos e de atos tão desprezíveis me fez chorar e aceitar o rótulo vergonhoso de gente. Ás vezes penso que melhor seria ser bicho.

O livro descreve as atrocidades da Alemanha de Hitler. Suas dores, as amarguras e a fome da camada de alemãs que não pensava como ele. Que não foram hipnotizados por suas palavras pegajosas, e denuncia, através da própria voz da morte, a colheita infame e maldita das milhares de almas judaicas. Porque esse título - A menina que roubava livros? Provavelmente para romancear e evitar a crueldade do tipo “O alemão de roubava vidas”.

Eu só posso dizer que o texto é fantástico, sensível, amável e penetrante.

Ganhei o exemplar de presente de uma amiga no dia do meu aniversário. E o que ela menos imaginaria era que estava me dando a oportunidade de reviver um encontro com as lembranças macias e doces dos meus melhores instantes ao lado do meu pai(outra saudade). Leia o livro e, se você teve a sorte de um pai amigo, mesmo por algum curto espaço de tempo, terá o prazer de o reconhecer na personagem criada por Markus Zusak, Hans Haberman. Sempre sou presenteada com livros por meus amigos. Todos sabem que adoro livros. Que amo ler. Mas uma coisa curiosa é que, vez por outra, perco um ou outro livro. Sei lá... Empresto e não devolvem. Apesar de amar os livros, não nutro por eles essa relação de posse. De objeto adquirido. Hoje fiz uma análise do porque não me aflijo quando me dou conta de não ter mais este ou aquele exemplar em mãos. O fato é que não possuo os livros. São eles que se apoderam de mim. Fixam-se em minha alma e permanecem cravados na minha mente e nada nem ninguém pode tirá-los de mim. Assim será com a “ A Menina que Roubava Livros”. Um livro mais que interessante. Um convite à amar o próximo.

Analúcia Azevedo. 07/01/2008.

Ps.: Eu não sei como se chama esse tipo de texto. Chamei de crônica.

Analúcia Azevedo
Enviado por Analúcia Azevedo em 07/01/2008
Reeditado em 07/01/2008
Código do texto: T806831