A oficina da Morte

Não há porque tanto pano e tanta roupa inútil.

O mosquito misturado à cortina, não me deixa dormir.

Vem raptar o meu sangue, num duelo de sobrevivência.

No silencio da madrugada ouço gritos de aves sendo abatidas.

O corpo é tragado pela máquina. Pena para um lado, sangue para o

outro, numa fanfarra de vampiros tortos. Coisa nauseabunda!

O cheiro é infectante. Enoja o sentimento de humanidade.

Existe um carrasco solto na madrugada - Sem culpa e sem mágoa,

Nutrido da indiferença humana.

Deveriam respeitar as madrugadas, o silencio tem ouvidos!

Amanhã comerei aqueles gritos - Beberei aquelas angústias,

Sou cúmplice daquela barbárie!

Todos comeremos aquela carne aterrorizada e ainda diremos:

Sou vegetariano, me alimento de carne branca.

Como se a galinácea fosse um repolho cantante, condenado ao

deleite dos homens, e autorizado pelas sagradas escrituras!

Ó impiedosa humanidade, a misericordia é um semblante desconhecido!

Porque estas ansiedades por cadáveres e naturezas mortas?

Não merecemos muito: O homem é um animal sedento de sangue;

Inventor de sofrimentos!

Bendita seja a dor, e o desencanto nosso de cada dia!

Vem vingar o martírio da galinha e do gado: Tudo se paga!

O diabetes e a esquizofrenia espreitam nas esquinas;

É o envenenamento das artérias, brincando com um cálice de sangue.

Um grito incomoda minha garganta - Um mosquito me faz meditar!

Devora-me que te devoro! - Não existe um pacto pela vida;

Uma moratória para o coração!!!