A Situação Espiritual do homem

A Situação Espiritual do homem

O homem é o único ser que não apenas é, mas sabe que é Consciente, aprofunda o seu mundo e modifica-o segundo um projeto, abrindo caminho através da natureza que repete inconscientemente, como se fosse o mesmo, imutável.

Ele é o ser não identificável como simples existência porque é capaz de determinar livremente o que vier a ser, pois o homem é espírito e a situação do homem autêntico não pode deixar de ser a mesma da sua situação espiritual.

A crítica ao longo do tempo é contemporânea da consciência de si. A nossa (Brasileira) afunda as suas raízes no pensamento cristão da história, como plano de salvação. Segundo ela o redentor surgiu quando os tempos se acharam completados, e com Ele a história se conclui ou resolve numa expectativa de preparação pessoal para o advento do fim dos tempos.

Se o problema do conceito de situação se tem posto até os nossos dias, tem-no sido por forma abstrata e imprecisa. No fundo, só o indivíduo é suscetível de se encontrar em situação. Por analogia, porém, fala-se da situação de grupos, do Estado, da humanidade, de instituições como a Igreja, a Universidade, o teatro, de formações objetivas como a ciência, a filosofia, a poesia.

Na medida em que à vontade do indivíduo as assume como coisa sua, esta vontade acha-se com ele, numa estrutura situacional.

As situações podem ser inconscientes, tornando-se ativas sem que o indivíduo saiba como se formam e acontecem, ou são reconhecidos como presentes por uma vontade consciente de si, capaz de assumi-las, utiliza-las e transforma-las.

Uma estrutura da situação espiritual do presente que não quiser cair no círculo vicioso de simples imagens do ser terá de permanecer aberta e atualizar-se.

Conhecida a fronteira do cognoscível (que se pode conhecer) e o perigo das absolutizações impõem-se inverter cada uma das imagens, de sorte a que outras se tornem sensíveis e se completem. Importa reduzi-las a perspectivas parciais que, na sua parcialidade, serão válidas, embora sem valor absoluto, mas facilitando seu entendimento.

O turbilhão da existência moderna substitui ao homem uma visão límpida do que, na realidade, acontece, vagamos na existência como num mar sem que possamos escapar-lhe ou espraiar-nos numa margem firme a permitir-nos uma perspectiva nítida da totalidade.

O redemoinho só permite abranger o que, por ele é arrastado, logramos.

A partir da suposta evidência generalizada é se levado a considerar o existir ao nível da simples assistência material dos valores das massas, através de uma produção racional, baseada em descobertas técnicas, como se apenas a razão pudesse conduzir a totalidade, a uma organização integral.

Resumindo, a modernidade não nos permite recuperarmos os valores espirituais do homem, e sem eles, estamos perdidos...

(Texto extraído do livro “Quinta Colônia” de Jacó Filho - baseado na filosofia existencial de Karl Jaspers)

Jacó Filho
Enviado por Jacó Filho em 11/01/2008
Reeditado em 11/01/2008
Código do texto: T813132
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