O TEMPO...

O TEMPO...

Eu adorava quando aparecia na minha televisão aquele moço alto de cabelos bem penteadinhos e com ar de desamparo, a anunciar o já bastante conhecido produto de limpeza.

Com seu jeitinho tímido e desamparado, despertava em todas

as mulheres, creio eu, seu instinto maternal embutido, escondido,

sufocado e disfarçado. (Não adianta despistar: toda mulher é mãe em potencial tenha ela 20 - 40 ou 60 anos, frustrada ou não...)

Pois é, daí via o tal mocinho tímido e desamparado, me emocionava toda, e lá vinha o instinto maternal aflorando...

Sentia vontade de falar-lhe baixinho, limpar-lhe os óculos, levá-lo para a caminha, cantar-lhe cantigas de ninar, vê-lo ressonar e sorrir ao sonhar com os anjinhos...

Em casa já me "gozavam" por eu não perder uma propaganda sua, como as criancinhas que correm para ver as que lhes interessam e , principalmente, da minha preocupação em adquirir aos montões, o produto que anunciava.

- Isso já nem é mania mais, é pura paixão – diziam zombeteiros...

E se fosse? – pensei – a Jocasta não pode amar um gatinho ? Porque eu não? Se o Freud não tivesse morrido há tanto tempo,

eu ia perguntar prá ele.

O pior é que quando ele não aparecia, na televisão, me dava uma vontade de comer pé de moleque... Carência afetiva?

O tempo foi passando, e a paixão caiu no esquecimento...

Agora deparo surpresa com o reaparecimento do tal mocinho desamparado, com cara de mais desamparado ainda, magro, ar envelhecido, tentando recomendar de novo seu produto de limpeza, mas já não convence...Mesmo trazendo a tira colo um galã da televisão, e ambos dançando e cantando tão sem graça....

Ah! O tempo!!!...

Linandre
Enviado por Linandre em 15/01/2008
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