O BIG BROTHER E A SAMAMBAIA

Já fazem doze meses que não assisto televisão. Na última mudança, decidi que esta “coisa” não mais teria vez na minha casa. Como não tenho filhos pequenos nem empregada, não foi difícil implementar esta decisão. Desisti tanto da TV aberta como do Cabo ou Satélite. A programação aberta é um lixo imenso e me recuso a pagar por reprises de seriados antigos e programas imbecilizantes. Se, por acaso, não conseguir ficar sem estes episódios ou programas, digamos marcantes ou históricos, irei a uma loja e alugarei o dito cujo em DVD. Por outro lado, devido alguma dessas razões exotéricas, a sobrevivência se tornar impossível, o comércio sempre haverá de me salvar, vendendo-me alguma esmerada edição para colecionador.

Tomei esta fatídica decisão certa noite, anos atrás, ao chegar em casa cansado e me deparar com a família toda de frente para a televisão. Era uma família do tipo os meus e os seus, não tendo havido, com a graça do Senhor, os nossos. Mas, como dizia, estavam todos paralisados e atentos com as peripécias de oito infelizes confinados em uma casa. Para minha surpresa, escutei um imenso “ssshhhhhh” como resposta ao meu costumeiro olá. E olha que era dia de jogo. Pai d'égua! Um duplo horror.

Não vou dizer que nunca mais assisti TV, vez que a TV se tornou uma alternativa saudável ante as opções possíveis de se defrontar com balas perdidas e pitt-bull's na calçada ou com a filosófica e sempre ameaçadora discussão da relação. Ler um bom livro? Escutar um Jazz? Isso é coisa para quem mora só, não tendo cachorro, empregada e outros seres que ambulam pelo ambiente e fazem perguntas sem esperar resposta. Essas coisas presentes em lares bem estruturados e felizes, sob a batuta do famoso eletrodoméstico Rei, cujo império se estendeu da sala para o quarto sem se descuidar da cozinha.

Para quem não perde a Fé e, como eu, tem um otimismo certamente derivado de algum defeito de fabricação, não é difícil imaginar que aguardei ansiosamente o dia em que este aparelho do demônio não mais mandasse nos meus domínios. Os filhos cresceram e saíram para o mundo, a cachorrinha morreu, o casamento acabou e a empregada foi embora, tudo mais ou menos nesta ordem.

Aprumei-me para a nova aventura da vida e como artigo primeiro da minha Constituição ficou estabelecido que os programas de televisão estavam banidos. Não vou dizer que sou extraterrestre nem me vangloriar de ser desumano, até poque tive algumas recaídas, prontamente solucionadas pela padaria da esquina, nos dias de jogos mais importantes. O que pude constatar, na verdade, é que o dia tem mais horas do que parecia ter e que muitos dos livros que estavam na fila para serem lidos, saíram dela.

O mundo dá muitas voltas e numa dessas inesperadas guinadas do destino, fiquei noivo. Descobri que na questão de gostar de uma companhia feminina, ainda mais se envolta em carinho, sou incorrigível e que posso até voltar a ter filhos, gato, cachorro, periquito, peixinho de aquário e samambaia, mas televisão... nunca mais. Isto é tão certo como o fato de que um dia vou morrer. Eu descobri, que ser feliz é fundamental e o meu equilíbrio emocional e a minha sanidade estão acima de tudo. Afinal, não preciso assistir um balé ou quiçá, um desfile de mulheres semi-nuas, para me convencer de qual marca de aveia ou óleo para motor devo comprar. Existem fontes mais seguras de informação neste mundo, com certeza, afinal os produtos têm rótulo e os jornais continuam sendo impressos.

Agora, se me dão licença, vou fechar esta janela do editor de texto e acompanhar o jogo do meu time pelo bom e velho radinho, enquanto navego pela net.