Leve

Leve...

É assim que a gente acorda depois uma boa noite de sono... Depois de feito boa prova, ter realizado aquele trabalho que ficou quase perfeito, de ter pagado aquela conta... Ter dito que ama alguém...

Isso na bucha, sem falsas convenções, exageros, máscaras ou coisa parecida...Isso só na verdade, descalços, despidos, despojados... Nus, sem penduricalhos na alma, sem aquelas prévias dores de cabeça que inventamos de dias cheios, pesados, como a gente mesmo sabe e prevê, mas faz bem quando ignora.

Não é assim o dia de (quase) todo ser? O peso e luta normalmente excluem o leve de um dicionário que sempre faltam palavras, termos e até páginas, que serviriam pra aliviar e pra minimizar as desgraças gratuitas, fortuitas, acidentais...

O nosso apego vai das orações aos desejos... Esses de tão leves encontram o poder de nos remeter a uma outra esfera, uma outra dimensão e nos faz habitantes de nossa própria alma, onde conseguimos literalmente nos encontrar depois de um longo caminho pelo deserto árido de nossa carne... As primeiras de tão fervorosas nos fazem ver além... É como olhar pelo avesso pra que fiquemos leves.

Lá enxergamos nossa alma transparente e límpida pelo próprio poder da busca incessante de um simples querer... E assim, sonhamos... E adeus loucura!

E que levem nossas dores... E deixem vivos esses mesmos sonhos, o da vida em si mesma como oportunidade constante, presente eterno, sem esperas, porém com esperanças plenas, que nos deixem leves...

E assim falamos...

E que ouçam e carreguem pra bem longe o azar, o pessimismo, o mal olhado, a inveja, as contas pagas de hoje e de ontem...Levem as nuvens negras que inundam e abafam um “chega”.

E assim planamos leves de quase no alto parar, quase voar, ou sobrevoar com idéias renovadas que transformam a mesmice destemperada no gosto simples que queremos dar sem ter que provar a toda hora. É encontrar o ponto num estalo que nos deixe leve...

É experimentar do mesmo molho com gosto de novidade um segundo após abrir os olhos todos os dias.

Pra que levem nos ombros do vento os pesos que todo dia nos massacram e nos impedem de andar...

Pra que surjam nas imensidões do invisível nosso gosto pela mudança hoje e sempre.

Pra que cantem em todo canto a canção que um dia desafinamos e deixamos de lado...

Pra que amigos antigos ora em diferentes lados, se encontrem na vida um pouco mais à frente...

Pra que sejam todos um e muitos sem diferenças...

Assim, leve será tão somente toda e qualquer alma de mãos dadas...

Que nos deixem... Que nos levem...

Tiago Alves
Enviado por Tiago Alves em 08/12/2005
Reeditado em 04/01/2006
Código do texto: T82580