Entre o ventre e o coração
Indignada comentava a respeito de um bebê que foi deixado numa calçada, relatando como poderia uma mãe deixar seu rebento, um bebê tão lindo, de cabelinhos arrepiados jogado no chão. Uma amiga respondeu: “_ É... Deus abençoou o casal que ficou com a criança.” Calei-me. São tantas as notícias mostradas pela mídia sobre bebês que são abandonados pela mãe que eu, com todo sentimento materno que tenho, não posso parar de me questionar o por quê de uma mãe da espécie humana, depois de gerar e conviver nove meses com seu fruto no ventre, ao contemplar sua pequena face e poder acalentá-lo nos braços, ao invés disso o descarta como lixo. Será desespero? Medo de não poder sustentar? Talvez. O fato é que o que é lixo para uma mãe biológica acaba sendo benção para alguém que não gerou no ventre, mas tem um coração como útero.
Diante disso o poder legislativo está sendo questionado sobre a criação uma nova lei (aqui no Brasil): a “Lei do parto anônimo”, por que não aqui no Brasil se alguns países desenvolvidos a tem? É... se torna menos cruel abandonar um ser em uma maternidade, rejeita-lo sem quem o pariu ter uma culpa atribuída a si, do que jogar ao relento correndo o risco que a criança morra de fome e frio. É um abando “legal” sem riscos de responder a processos e ir pra cadeia. Observando por esse ângulo parece tão simples achar que a mulher que não se sente preparada pra ser mãe, ao engravidar tenha que tomar uma decisão. Assim, entre o “aborto ilegal” e o “abandono legal”, a segunda opção é a mais viável. Mas, entre se sentir pronta pra ser mãe ou não, a realidade nua e crua é que existe um pequeno ser humano que não pode decidir se está preparado para ser filho ou não. Ele existe, não serve para quem o gerou e, assim como os alimentos de uma feira, que não servem para ser comercializados, vai para o lixo. Por sorte, muitas crianças que são renegadas por suas genitoras são adotados por pessoas que olham e ao invés de visualizar um dejeto, vêm um filho.
Diante disso vejo que a maternidade está além do biológico, pois entre o ventre e o coração o primeiro nunca determinará a maternidade. Por isso o motivo do meu silêncio reflexivo ao ouvir a resposta: “Deus abençoou o casal que ficou com a criança”.