A morte de Dona Carochinha

Eu em minhas pobres tentativas de entretê-los com meus ainda pobres contos, sempre escondi em meu intimo, uma admiração espontânea por uma ilustre figura da literatura mundial, e, diga-se de passagem, a mais exímia contadora de histórias de todos os tempos.

Dona Carochinha, que hoje descansa em paz em seu derradeiro leito, foi e sempre será um modelo do qual me lembrarei, todas as vezes que com a pena na mão começar a escrever uma nova estória.

Devido a idade avançada daquela contadora, sempre houve muitas especulações acerca de sua possível imortalidade, pura inocência.

Já no início dos anos noventa a saúde de Dona Carochinha começou a definhar, vitimada por ataques cada vez mais poderosos, provindos de jovens que podiam se transformar em ninjas mecanizados, com super poderes e que controlavam robôs gigantes.

Mas a estes, dona Carochinha venceu!

Recuperada uma parcela de sua antiga vitalidade, começou a batalha com mais japoneses, agora trajando armaduras forjadas com metais nobres, e que irradiavam energia provinda dos signos do zodíaco ocidental, em total controvérsia a origem de tais cavaleiros.

O poder de dona Carochinha subsistiu até a eles, mas sua pior batalha ainda estava por vir. De novo contra os Japoneses.

Um grupo de jovens kamikazes, que acreditavam que um dragão mitológico poderia os reviver, elevavam seu “ki” ao máximo, atacando dona carochinha com golpes de nomes difíceis, e de intensidades comparáveis ou superiores a explosões de ogivas nucleares, talvez como uma forma de vingança frente às atrocidades da segunda guerra mundial.

E a estes, dona Carochinha também sobreviveu.

Mas depois de algumas décadas de luta contra inimigos cada vez mais poderosos, sua saúde já não suportaria novas cruzadas contra heróis ou vilões orientais, os médicos já não alimentavam mais esperanças a nós admiradores dos seus velhos contos, ricos em lições de paz e amor.

Foi numa noite de sexta-feira, em que ela nos deixou, um novo ataque oriental tirou dona Carochinha de nosso meio.

O golpe final foi uma rajada de energia, deferida por um pokemon ou digimon, ninguém sabe ao certo, já que o criminoso furtivamente veio terminou o serviço iniciado por seus antecessores, e se foi.

Nos deixando sós com nossas crianças, que já não temem mais o lobo-mal, pois sabem como detê-lo com seus poderosos golpes fatais, já que sempre são mais destrutivos que as próprias forças do mal.

“Será que ainda contemplaremos a paz dos bosques de framboesas e das cálidas manhãs do fim da primavera? /Quando temíamos unicamente os lobos. /E o homem não era seu próprio algoz”.

Trecho extraído do poema “Nostalgia”, escrito por Dona Carochinha já em seu leito de morte.

11 de abril de 2007