O TEXTO

Hoje eu encasquetei que escreveria um texto em que eu comentaria o que é pra mim, escrever um texto. Pois bem, como é que eu começaria o texto? Começaria comentando sobre texto ou escreveria sobre texto simplesmente porque escrever sobre texto, na verdade, já estaria escrevendo sobre o texto. Qualquer escrito é texto. Como é que é? Qualquer escrito é texto? Diria alguém... E se o pretenso escritor escrever somente uma palavra... Essa palavra escrita é texto? Texto, não é um conjunto de palavras? E esse conjunto de palavras pode ser uma frase? E neste caso, uma frase pode ser considerada texto? Ou melhor, texto é um conjunto de frases? Espera aí! Um conjunto de frases não é um parágrafo? E aí, sim... Um conjunto de parágrafos é que formam um texto. Espera aí...! E se o texto for muito longo, tão longo que seja necessário dividi-lo em capítulos? O capítulo, então, seria o conjunto de textos? Tá...! E se depois de todo este devaneio, tudo o que foi questionado até aqui não significar nada...? E se o escritor tiver resolvido escrever um poema, as palavras que compõem o verso é um texto? Ou o texto é o conjunto que forma a estrofe? Mas aí, nós vamos recomeçar todas as discussões? Afinal, o que foi escrito até agora, pode ser considerado texto? Pode ou não pode? Mesmo contendo uma carrada (Ops! Carrada, não) ...um amontoado de erros, bobagens, e falta de conhecimento de estilo ou de omissão de informações sobre todos os estilos de escrita. Ou seria texto. Ih! Até agora não foi feito um parágrafo sequer... Espera aí..! E isto tem alguma importância? Afinal...! O que está interessando aqui é escrever um texto. Muito bem, mas escrever com estilo ou sem estilo? Vem a pergunta de novo... “E interessa?”

Chega de questionamentos. Como eu disse... Espera aí! Disse ou escrevi? “Meu caro, isto não tem a menor importância, o que nos interessa aqui é escrever um texto. PelamordeDeus!!!!! Continua escrevendo e deixa de questionamentos”. Naturalmente diria o meu subconsciente ou o correto seria ‘alterego’? “Caramba! Vai começar tudo de novo? Opa! Começar de novo não é redundância?” “Tá... tá... Continua o texto”. É o meu subconsciente, mais uma vez impaciente comigo.

Muito bem! Vamos lá... Vou iniciar o texto considerando qual estilo? “Pô...! Se achando importante, hem? Qual estilo, cara? Não acha que tu estás te enchendo a bola? Para quem começou a escrever para o Recanto das Letras um dia destes...” É o meu ‘sub’ tirando uma com a minha cara. O estou chamando de ‘sub’ porque, hoje, ficamos mais íntimos... Sabe?

“Meu caro? Vai ou não vai escrever o texto?” Nova cobrança do ‘sub’. Na verdade, ao chamá-lo de ‘sub’, eu o estou rebaixando a “cacheba do badeco”. Depois eu explico o que quer dizer esta expressão: “cacheba do badeco”.

Pois bem! Vamos recomeçar... Falando em estilo. Ou o correto seria: escrevendo em estilo. Bem, deixa pra lá. Escrevendo sobre estilo... Vou escrever no estilo sóbrio que Graciliano Ramos utilizou em sua obra imortal: “Vidas Secas”... Ou vou utilizar o encantador lirismo do grande José Mauro de Vasconcelos em “Rosinha minha Canoa”? E se eu utilizar a fina ironia do amor que Vinicius de Moraes magistralmente introduziu em seus poemas? Não! Acho melhor utilizar a crueza familiar/cotidiana de Nelson Rodrigues em “Navalha na Carne”. E se eu me apropriar do romantismo de Joaquim Manuel de Macedo em “A Moreninha”? Quem sabe introduzir um forte teor jornalístico utilizado por Euclides da Cunha em “Os Sertões”.

“Escuta aqui, pretensioso...” Mais uma vez o ‘sub’ me interrompe. Como castigo, doravante vou denominá-lo de “cacheba do badeco” (Pausa: “cacheba do badeco” é o ajudante do ajudante do auxiliar do cara que ajuda na limpeza da coxia. Entenderam?) Se ferrou... Acho que os adeptos, ou seria melhor escrever discípulos, de Sigmund Freud não devem ter gostado ‘nadica de nada’ da mudança, Naturalmente diriam: “Esse um, aí...! Por acaso, tem alguma qualificação?”

O “cacheba do badeco” continua... “Você não acha que a pretensão, ou melhor, comparação com os grandes mestres brasileiros da escrita está exagerada? E olha que você esqueceu ou omitiu Graciliano Ramos, Jorge Amado, Drumond, os dois Veríssimos, pai e filho, sem falar, ou melhor escrever, de Oscar Wilde, Umberto Eco, e o que dizer de Gabriel Garcia Márquez? E o grande Vargas Lhosa? E o cara aí da tua região, Amazônia? O genial Márcio de Souza, amazônida da mais pura gema. É... Meu camarada...! Vais ter que ralar muito, e mesmo assim não vais chegar, sequer, um décimo de um décimo perto desses gênios. A tua sina é a de ser sempre um reles escrivinhador. E dê-se por satisfeito”

Fazer o quê? Como eu peguei pesado com o “cacheba”. Olha eu aí, novamente abreviando... É claro que o troco viria rapidamente, viria “on-line”, por fibra ótica. Por fibra ótica, não. Por conexões ‘neurônicas’. Bem rapidinho, rapidinho.

“Ta pensando que eu vou te deixar se safar assim, sem mais nem menos. Estais muito enganado, meu caro”. Viram? Ou melhor, leram? É o tal “cacheba”, de novo... “Pois é, até agora vossa senhoria (gostou do tratamento?), somente se referiu aos estilos. E aí? Não vai escrever sobre os temas, não?” “Não vai comentar nada?” O”cacheba” não dá refresco. E eu que pensei que o cara já havia se recolhido à sua insignificância... Ta certo, às vezes ele até ajuda. Mas essa mania de imiscuir-se em tudo, desculpem-me a chula expressão, já está enchendoosaco.

Não, não vou escrever sobre a escolha do tema, mesmo porque o livre arbítrio, meu, ou de quem quer seja, é a pedra mestre de qualquer texto. Você pode até copiar o estilo, bem ou mal, mas pode copiar. O tema, ao contrário, depende do estado de espírito, depende do coração. Sacou? Meu caro “badeco”? “É... Parece, somente parece, que você se saiu, digamos assim, mais ou menos. De qualquer forma tenho cá minhas dúvidas. Quem ler esse “texto”, melhor juiz será. E aí... Vamos ver como é que você vai se sair. Mais uma coisinha, continuo com a minha opinião de que você (vossa senhoria foi só uma vez, e chega, né?) não passa de um reles escrinhador”

Acontece... Meu caro “cacheba”! Que a despeito do teu menosprezo e do teu vil julgamento, eu consegui o que queria, ou melhor, eu consegui o que quis.... ESCREVER UM TEXTO. Bem ou mal escrito... De qualquer forma é um TEXTO. E, este fato, meu caríssimo “badeco”... Não pode ser mudado. Deletado, alterado, sim! Mudado, não.

OBS: Peço desculpas, perdão, vênia o que quiserem os admiradores dos grandes mestres pela ousadas comparações.

OBS2: Este é o meu TEXTO, ó “badeco”!

“Aham! Estais pensando que acabou, é? E quanto a gramática? Concordância verbal... Utilização dos verbos, adjetivos, crases (Já pensou quantos erros de crases o teu texto pode ter?). Deixa eu ver o que mais... Deixa para lá... Os leitores... os leitores... esses juízes implacáveis...” O “cacheba do badeco” não dá folga mesmo.

Ó, ser inominável... Esquecestes que já me classificastes de escrivinhador... Que eu não passo de um reles escrinhador. Esquecestes que eu sou escritor amador. E que para os amadores é concedido o benefício da indulgência? Agora eu te peguei...

Quá... quá... quá...