IMPOSTO PARALELO E CIDADANIA NO BRASIL

Na semana que passou li a notícia do boicote preparado ao IPTU no RJ. Achei engraçado e interesante a manifestação que se espalhou no meio virtual e que surtiu efeito. A população, mesmo sem sair às ruas, manifestou-se e exerceu a cidadania, mas nem sempre isso é possível porque no nosso sistema atual não se sabe mais em quais orgãos governamentais se deve confiar.

Nos morros, a polícia que ficam a 100 ou 200 metros das bocas-de-fumo, fingem que não vêem e não sabem o que está acontecendo até que os moleques raquíticos não pagam o imposto a eles, dando-lhes calote para que comecem os tiroteios e todo morador se torna marginal nessas horas. É o adágio bíblico, "paga o inocente pelo pecador". E o inocente cada vez mais.

Como a venda de drogas só dá lucros aos de colarinho branco, os soldadinhos de chumbo do tráfico, nada mais são que crianças passando fome e toda espécie de mazela, pois o que ganham só é suficiente para manter o vício e para alimentar o sonho que um dia chegarão lá, não sei onde chegarão, se na cadeia ou cemitério, mas cada um deles acredita cegamente que um dia poderá ser o chefe e ter muita grana. Doce ilusão, não sabem essas infelizes crianças maltrapilhas que a grana fica em outras mãos. Mãos que estão em todos os setores sociais, menos na favela, porque a favela só tem os soldadinhos, que vendem as drogas ou que recebem a propina.

Como estes soldadinhos não vêem a grana, criam tributos paralelos ao do governo para poderem sobreviver miseravelmente e fugindo menos da polícia. A população paga tributo aos traficantes, a milícia e ao governo e tem medo de todos, porque ninguém os respeita e todos cobram. Em quem confiar?

Como a grana é pouca, cobra-se pelo gás que sobe o morro, paga-se pelo comércio que é posto no morro e agora paga-se tributo se você tiver imóvel alugado no morro, dentre outros impostos cobrados.

O pobre nunca viu tantos impostos nessa vida. Todos cobram deles, mas nenhuma das organizações oferece nada em troca. A polícia não protege quem devia proteger no morro, o tráfico quer meter a mão na grana dos míseros e sofredores trabalhadores que vivem em situação de miséria e desolação, subindo e descendo escadas construídas por engenheiros incapazes de compreender o que é viver no morro e trabalhar fora dele. Além da escadaria, temos a geografia que não ajuda em nada, toda enladeirada, um sofrimento para carregar até os alimentos para casa. Parece que carregam o peso diária de cada dia de vida. O governo que recebe seus impostos, esqueceu que essa população existe. Desculpem o lapso, não esqueceu, recorda sempre deles, nos períodos eleitorais, fora disso são apenas os elementos que compõem o CEMITÉRIO DOS VIVOS.

E a vida segue na mesma rotina, todo santo dia, chova ou faço sol. Esteja um mar de tranquilidade ou um mar de balas atiradas em todas as direções. Difícil exercer a cidadania, denunciar o quê? A quem?

Soliana Meneses
Enviado por Soliana Meneses em 27/01/2008
Reeditado em 28/01/2008
Código do texto: T835684
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.