ESTUDO DO CASAMENTO

(Parece desperdício querer falar sobre algo tão belo logo na época em que as pessoas assumem publicamente os animais que são. Mas... vamos lá!)

Fui ao cartório, onde seria o casamento de minha tia mais nova. Creio que foi a primeira vez que fui a um casamento em cartório, tendo em vista a grande intimidade com os noivos.

Eu e meus primos a toda hora encontrávamos motivos para rir, desde o traje da juíza ao sutil nervosismo deles. Mas, claro, sem desrespeitar a cerimônia.

A juíza, cuja seriedade me deixou surpreso e admirado, falou sobre a importância do casamento. Citando até o caso de um rapaz que ela casou, que, em menos de um ano, voltou para casar-se com outra mulher; e ela, muito decepcionada, casou-o novamente. Ela também recitou o texto “Eu Te Amo não diz tudo”, de Arnaldo Jabor – maravilhoso, por sinal. (Nunca imaginaria que uma juíza seria tão preocupada! Fiquei com uma ótima impressão dela.)

Bom, até que chegou a hora da grande pergunta.

-Alencar, é de livre e espontânea vontade que você aceita Fabíola como sua legítima esposa, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe?

Dias antes estava jogando conversa fora com eles, falando dos assuntos mais simples. E agora eles ali, prestes a responder àquela tão famosa pergunta! Enquanto olhava, achava muito estranho, mas engraçado.

Então ele respondeu:

-Sim...

Mas foi um “sim” tão nasalado e sem firmeza, que ficou parecendo mais um “sim...?”. E ele também riu um pouco. Não deu outra: olhei ao meu redor e estava todo mundo segurando o riso.

Na vez de minha tia foi um pouco diferente. Estava nervosa sim. Mas não sorriu. Demonstrando – acredito eu – um pouco de indiferença de sua parte, ao contrário do nervosismo “romântico” do noivo. Como justificativa, talvez ela não estivesse tão nervosa assim. Mas no casamento da igreja sempre acabam chorando. Talvez pela apresentação religiosa, mas provavelmente é pela festa e pela produção. E é óbvio que casamento é mais do que isso. Aqui há - pelo menos - incoerência.

Conforme parava de rir, comecei a refletir – até um pouco assustado ou decepcionado – profundamente. Pensei “Ué... mas só isso?”, sobre respostas tão curtas. Se a opção fosse negativa, bastaria um “não” e não precisaria de nada mais. Mas, sendo positiva, será que a vontade para assumir algo tão grandioso cabe em três letras? No mínimo deveria se usar verbos e advérbios com algum significado para expressar a decisão e o desejo de um momento tão marcante. Até para tornar bem mais especial, não só o dia, mas o resto dos dias.

Um tempo depois pensei sobre a pergunta da juíza, também. Sempre valorizam mais se “aceita”, não se “quer”. Até ri um pouco ao fazer essa observação. Quando respondem, não dizem “eu quero”, parecem dizer mais “está bom, vou quebrar esse galho” ou “é, já está na hora mesmo”. Vai ver que tem gente que casa e, na verdade, nunca quis.

É conveniente aqui citar os três pilares do relacionamento: instintos, emoção e planos. Instintos são os desejos e impulsos ligados à atração física, que fogem totalmente do racional. Emoção remete à arte do romantismo, a expressão do sentimento. Planos são os projetos e pensamentos sobre um futuro junto ao outro.

Hoje em dia, o amor está muito vulgarizado. Muitas pessoas estão tomadas pelos instintos. Emoção? Só se for para conquistar e satisfazer logo o instinto. Planos? Nem pensar. (Olha em que ponto chegou o egoísmo...)

Pessoas que pretendem se casar certamente fazem planos. Vou comentar dois tipos de planejamentos de casamento: o precipitado e o acomodado.

O precipitado é aquele em que os instintos se confundem com os planos, assim estes se tornam mal feitos. Da mesma forma que os projetos foram acabados às pressas, a união muitas vezes acaba às pressas também.

O acomodado é aquele em que os instintos estão quase adormecidos e a emoção já está sem tanta força. Os planos, porém, estão totalmente a favor. É como se já estivessem tão acostumados, que não se imaginam sem o outro ou têm preguiça de procurar em outro, depois de tanto tempo que passaram juntos.

Um amor completo é regido pelos três. Mas muitos se vêem felizes ou satisfeitos mesmo com a falta de algum. (E não há porque se meter nisso, pois cada um é dono de sua própria felicidade.)

Para alimentar a emoção, precisa-se de gestos, falas e textos românticos; e os instintos clamam por mistérios e surpresas; quanto aos planos, bom, basta pensar e imaginar, sempre com carinho e respeito. Estes pilares tornam o amor especial e devem ser metas constantes para corrigir as falhas da espontaneidade.

Cláudio Theron
Enviado por Cláudio Theron em 28/01/2008
Reeditado em 28/01/2008
Código do texto: T836204
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