A mão que me embala os sonhos.

Tirou os óculos de lentes grossas e armação pesada e me surpreendeu com um par de olhos verdes, emoldurados com pestanas de querubim .A primeira impressão ao vir ao seu encontro, foi de uma surpresa inversa á imagem que criara ao ouvir sua voz.Tinha um corpo miúdo, que apesar de avisado não imaginava tanto, quase anoréxica.Olhava para as pontas dos sapatos entristecida, esperando-me .Sem ser visto, notei em sua atitude a certeza que como outros eu não viria, ao me presentear com seus olhos verdes assustados e meigos, me levou de volta aos trilhos do metrô, e aos caminhos da cidade que abandonara por uma década e meia ao recluir-me em minha extinta empresa e aos ditames dos negócios e das companhias sensaboronas que acompanhavam como um roteiro pré-estabelecido.Redescobriu em meu coração o amor á minha terra aos lugares, que conheci e agora desconhecia, cafés, espaços culturais, teatros, bares, pessoas , casas noturnas, conversas longas e queridas, dançar de rosto colado,coisas que minha querida Sampa me reapresentava.A voz pausada educada como seus modos discretos, um ar grave de funcionaria publica que o era na verdade.Sua simples presença me doou uma paz que ha muito procurava.Eu que no vórtice de uma crise, me esquecera de mim assim como da minha terra sem querer descobri que já a queria.Fazia amor com devoção e uma falsa submissão a que me submeti docilmente imaginando-a submissa.Quando tomamos ciência do que nos sucedia estávamos morando juntos , lembrando momentos na praia, em uma noite mágica que lua desenhou no mar uma escada iluminada e imensa nas ondas que acabavam la para o fim do horizonte.O cheiro de mato em primavera de Araçoiba , os sabias nos acordando, felizes mas menos cansados .Vivemos momentos lindos outros difíceis e nos descobrimos gostando das mesmas coisas, pessoas, desta cidade que nascia e morria em nós diariamente.Nos separamos num momento difícil mas crucial para ambos, olhou-me nos olhos e sentenciou...Creio que não da mais, quero e preciso viver minha vida.Olhos ternos marejado de lagrimas diminuíram o impacto em meu coração, sentia nela a dor da separação.Após nos víamos sempre, nos convidávamos para a semana de arte, cinema teatro, a Sinfonia que nos fez chorar juntos, os risos que lhe provocavam minhas observações em lugares solenes, seu jeito tímido de olhar para para o chão reprimindo o riso e me pedir ...Para ... vou dar vexame.A ultima vez que nos amamos dormimos como anjos cansados, acordamos tarde ela assustada me pediu para leva-lá ao ponto de táxi, negando-me o pedido de dormir comigo, levei-a , despediu-se dizendo...Não fico pois se ficar não volto, e isto não seria bom para nós !.Na ultima noite em nosso apartamento vazio dela, fiquei a janela olhando a cidade adormecendo, as luzes se apagando com a madrugado até tornarem-se, pirilampos isolados e notivagos.Parou de ligar para saber como estava e como eu estava.Não me manda mais torpedos de boa noite.Fico olhando minha cidade adormecida, seu festival de luzes se apagando, esperando que o celular toque com uma mensagem de boa noite da mão que me embala os sonhos.

Que meu abraço encontre o seu sorriso

Carlos Said

Carlos Said
Enviado por Carlos Said em 01/02/2008
Reeditado em 08/08/2013
Código do texto: T842089
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