Melhor nem lembrar.

O tanto que percorreste para chegar até aqui, os obstáculos que enfrentou, e continuou de pé, agora que finalmente conseguiu, ter o que sempre quis, é o que realmente quis?

Todas as portas que fecharam antes mesmo de tu dizeres “oi”, todo o seu sofrimento calado esse tempo, agüentando, segurando firme a dor, valeu mesmo a pena?

Porque eu só quero te merecer, não quero que percas seu tempo comigo, antes de me dizer que tem certeza que eu valho todo essa sua longa história de vida.

E se tu me disseres que sim, para sempre eu vou contigo, nesse caminho sem fim, onde as magoas e os sentimentos passados são esquecidos, aonde há uma nova vida, e um amor novinho em folha, aonde possamos apontar a direção que preferimos, e sempre escolhermos a mesma. Eu não levei a vida muito diferente de ti, precisei sofrer para entender que o coração não é um simples brinquedo, que talvez quando quebre tenha concerto.

E agora, acho que é hora, de confiarmos em nós, de esquecemos o depois e o antes, porque agora eu te tenho aqui, e não quero mais nada. Contigo ao meu lado, eu nunca vejo a escuridão, eu nunca me sinto solitário, acho que agora realmente o amor pegou, e dessa vez não é uma ilusão e nem uma paixão.

Sempre busquei me sentir dessa maneira, e agora que estou me sentindo, é tão maravilhoso, quando tu me dizes que as coisas que passamos ficarão registradas, assim, como o nosso nome naquela velha calçada. Eu só quero confiar em você, e acreditar que tudo ficara bem. Pois tu és o único, que sempre me compreendeste, tu foi o único que sempre me dizia para seguir em frente, e não importa se fosse com outra pessoa, desde que eu garantisse que seria feliz.

Sim esses foram os primeiros pensamentos que eu tive assim antes de me dizer todas aquelas coisas, que eu não me importava ou que eu era apenas mais um de seus troféus que não servem para nada a não se enfeitar.

Eu tentei, e como eu tentei colocar na minha cabeça, que tu não merecias nem o mínimo de preocupação, mas já faz um ano, e eu desisti de pensar assim.

A primeira vez que tu foste embora, e me deixou, eu me sentia como que tivesse que fazer força para respirar para me manter viva. Tentei olhar para longe quando tu estavas em minha frente e me pedia uma nova chance, eu disfarcei bem.

Ignorei-te, tantas vezes, te vi com outras e fingi não sentir nada, mais uma vez disfarcei otimamente bem.

Um dia o destino me pôs em teus braços de novo (eu agradeci, oh como eu agradeci), eu chorei de felicidade e de tristeza, pois voltaria a vivenciar tudo que antes passei.

E foi ai, que mais uma vez tu me disse adeus, pois achava que eu estava com muito medo, e estava deixando de viver por isso.

Tu voltaste da tua longa jornada, eu sem duvidas, daria minha vida para estar do teu lado e voltar aquele tempo. Pois por mais que eu sofresse, vivi tão feliz, como nunca estive.

Não mais me importo com as condições que tu me exigires, agora eu te quero aqui, e me rendo de vez a ti.

Eu sei, é pura tolice, me jogar como um pano de chão, para tu pisar, chutar, e jogar fora quando estiver bem sujo e velho.

Mas por ti, eu quero ser chutado, eu quero chorar de tristeza e de raiva, porque não existe sofrimento mais prazeroso do que o teu.

Ridículo? Sim tudo isso é tão ridículo e sem sentido, mas o sem sentido começa a fazer sentido, quando há um sentimento, assim tão profundo, tão intenso, tão inacabável, envolvido.

Arrependi-me de não ter pensado assim antes, pois de qualquer maneira iria acabar em teus braços, em teu quarto, com o teu cheiro. Não me importo mais com os mil corpos que tu colecionaste, se eu digo que quero ser o seu 1001 é porque eu realmente estou tentando não me importar. Sou capaz desse sacrifício sim, esquecer meus ciúmes, jogar tudo que eu construí até hoje para voltar a quem realmente me fez sofrer, me fez sofrer como ninguém jamais teria feito.

Porque hoje mais do que nunca, percebo que eu nunca deixei de amar você, nem mesmo por um segundo.

Abri mão de milhares de coisas, me distanciei das pessoas que eu mais amava e nada adiantou.

Pois continuo aqui, fria e enferrujada, literalmente sem escolhas, depois de tanto escolher, de tanto pensar em que seria bom ou mal pra mim, nunca passou pela minha cabeça que eu iria me arrepender, ou então que um dia eu ia escrever todo o meu maldito sentimento.

Quando eu vi os meus sonhos despedaçados, eu não sabia se devia chorar ou rir de mim mesma, por sempre ser tão burra.

Antes pensava que tinha uma folha branca com apenas um pontinho preto para ser corrigido, mas me enganei, eu inverti a situação. Era uma folha toda preta, com um mínimo pontinho branco.

É impressionante como esperei o tempo passar, com uma armadura quebrada, que só me machucava ainda mais. Percebi, que nada adianta uma armadura, se realmente não está pronto pra enfrentar a guerra.

Percebi também, que quando somos golpeados por uma espada, somos ainda mais forte.

Forte - não imune, não inabalável, mas forte o suficiente para compreender que de nada vale a melhor espada, se tu não tens forças para lutar.

Quando a tua avó diz: “o tempo é o senhor da razão” acredite nela. Com o tempo aprendemos a não apostar nos jogos que nunca ganhamos, vamos amadurecendo, passando de fases sem perceber, e transformamos naquilo que queríamos ser.

O tempo é sábio, ele mais do que ninguém sabe quando estamos ou não prontos, quando precisamos ir pra guerra, e até mesmo sangrar ou morrer ali.

O tempo me ensinou algo que eu sempre soube, mas me contradisse.

Ensinou-me que não importa as circunstancias, eu sempre vou andar na mesma direção, a linha muitas vezes não é reta, mas sempre me levará para o mesmo caminho. E nem a minha maior força vai desmarcar a linha que já estar traçada, se eu fechar os olhos, e não querer seguir mais nenhum caminho, o vento me leva para perto de ti.

Se eu me deitar no chão, e tentar desenhar outra linha, a chuva cai sob mim, me acordando, e me fazendo perceber que nenhuma linha feita por mim, vai alterar o destino.

Se eu escorregar e cair, tu vai usar o seu magnetismo para me trazer de volta aquela única linha que vejo em toda minha vida.

Queria que existissem várias linhas, e não seguir aquela que eu sei que vai dar em você.

Saiba que eu escolheria todas, menos a tua.

Mas infelizmente não existe, e agora eu mesma estou aqui, andando na linha, ou melhor, dizendo, correndo. Pois agora ou depois, não faz mais diferença, se eu sei aonde eu irei chegar. É tudo tão previsível, que eu me assusto. As surpresas, ou desencontros, não mais existem, só quando são “planejados”. Idêntica a vida de uma laranja mecânica, tão monótona, tão sem cor, sem ambições, sem medos.

Apenas esperando em cima das arvores ser pega, e depois levada para aonde quiserem, e mesmo ela prevendo tudo isso, continua ali. Pois se não tem pés ela não pode andar, se não tem asas não pode voar. Então ela permanece intacta no seu devido lugar.

Passa janeiro, fevereiro, março, abril, maio, e o tempo ainda parece não ter passado, eu estou cansada e suada, mas ainda não cheguei ao fim da linha.

E quando eu chegar, se pensas que ficarei satisfeita, pensas errado.

Porque verei vários rostos, que também chegou. Para ti isso não é tão difícil, vários rostos assim idênticos ao meu derrotado de uma longa viagem.

Minhas olheiras escurecem todo dia que me olho no espelho pela manhã,

O meu humor parece mais seco a cada noite.

Minhas paciências não mais existiram.

Eu perdi tudo que era meu, e entreguei tudo a ti.

E veja o que eu recebo – pena e educação (?)

Se for para ter isso de ti, prefiro que tu passes do meu lado, e nem se curve para me olhar. Ou até mesmo passar despercebido, para não ter que dizer “olá”.

Mesmo com as mãos distantes da minha, sinto a firmeza da sua mão.

Mesmo em mundo distantes, e em lugares diferentes me sinto em ti.

Mesmo quando não há condições de relevar, mesmo quando o melhor é deixar tudo como está, sinto que não terminou.

Mesmo quando o melhor é não pensar, eu penso em ti.

Ligo e desligo a TV, procuro qualquer distração, que me leve distante de você.

(*"... e todos esses livros, que não me dizem nada..”)

Olho para o lado mudo o quadro de lugar, e ao olhar o porta-retratos tua foto eu vi lá.

Tentei rasgar as cartas, tentei queimar as fotos, tentei não sonhar contigo pelo menos uma noite, e nem deixar de dormir pensando em ti.

Saiba que quando digo eu tentei, eu falhei.

Agora falo sério, sem laranjas, sem guerreiros, sem sangue, sem linhas, sem troféus. Porque agora eu só consigo lembrar-se de teu nome.

* "... e todos esses livros, que não me dizem nada..”

* Trecho tirado da música “Teu semblante”.

Andréia Cruz
Enviado por Andréia Cruz em 04/02/2008
Código do texto: T845356