HUMBERTO DE CAMPOS / POR NESTOR TANGERINI

RECORDAR É VIVER

- Uma de Humberto de Campos

Nestor Tambourindeguy Tangerini

Todos sabemos das mil peripécias por que passou o grande escritor o grande escritor nacional Humberto de Campos, como, por exemplo, de que foi não só humilde caixeirinho de venda, em São Luís do Maranhão, senão, também, simples aprendiz de tipógrafo, em Parnaíba, Piauí, fatos esses, aliás, amplamente divulgados em seus inesquecíveis escritos.

Dotado, porém, de profundo talento artístico, fácil lhe foi granjear, rapidamente, a simpatia de seus leitores e ascender ao estrelato da nossa literatura.

Aqui no Rio, onde, por muitos anos, militou em nossa imprensa, deixando traços indeléveis de sua capacidade intelectual, fomos encontra-lo, certa vez, trabalhando em determinado jornal, vivendo cenas bem humorísticas.

Um dia, eis que falta ele ao serviço, por motivos imperiosos. Morrera-lhe a sogra. E o Humberto, que se encontrava desprevenido, não teve dúvidas em mandar um portador à redação, a fim de pedir-lhe adiantasse o chefe um conto de réis, para as cerimônias fúnebres.

O dono do jornal, no entanto, alegando encontrar-se, naquele momento, em más condições financeiras, expôs-lhe tudo isto num bilhete, enquanto lhe mandava, apenas, a metade da quantia solicitada – quinhentos réis.

Humberto, ao receber de volta o portador, com a importância, atestando a serenidade de seu espírito e a boa dosagem de seu fino bom-humor, fê-lo voltar ao jornal, escritas nas costas do bilhete as seguintes linhas:

“Fulano:

Para o enterro de minha sogra, preciso de um conto, e não quinhentos mil réis”.

E, logo após, naquela verve toda sua, entre ingênua e maliciosa:

“Uma sogra não se enterra pela metade...

Humberto”.

Crônica publicada na revista O Espêto, Ano 1 / no. 3, pág. 22, Rio, 15 de junho de 1947, com o pseudônimo Conselheiro Armando Graça.

Arquivo Nelson Marzullo Tangerini:

n.tangerini@uol.com.br / tangerini@oi.com.br

Bergamota
Enviado por Bergamota em 06/02/2008
Código do texto: T847870