ESTABILIDADE É TUDO

Um dos itens que mais contam nos padrões de stress é o medo de perder o emprego. Esse é o grande fantasma do homem moderno (fora brochar na cama com a Juliana Paes).

Geralmente a perda do emprego sempre ocorre três minutos após você fazer um empréstimo e trocar de carro, ficando com dois carnês mais grossos do que a lista telefônica.

O funcionário público com aquela cara de papel amarelado, com aquele jeito de “sem o meu carimbo, nada feito”, tem um fator causador de doenças sociais a menos para se preocupar, nesse rosário de terror que são os motivos para um homem moderno não dormir.

Ele arranca com grande vantagem sobre o trabalhador da iniciativa privada. Ele tem estabilidade. Olha que coisa linda de dizer: ele tem estabilidade. Quer coisa mais maravilhosa do que poder dizer isso: eu tenho estabilidade.

Jesus Cristo não procurava mais do que isso em sua vinda a terra. Seus sermões, seus milagres, seus atos, sua vida, não buscavam mais do que isso para a humanidade: a estabilidade para os homens.

Vocês sabem o que é isso? Significa que ele pode ter todos os problemas que os simples mortais possuem, mas tem um que a eles não afeta, talvez o mais importante deles: o fantasma do desemprego. Isso mesmo. Aquele fantasma que ronda os corpos de todos os trabalhadores da iniciativa privada, cujos destinos estão à mercê de circunstâncias muito frágeis, imprevisíveis, ou seja,

tem tudo para acontecer quando menos se espera,

tais como: um porre mal curado do seu patrão, um chifre descoberto por ele, dado pelo cunhado, uma visita indesejável da sogra na casa dele e que terminou em briga no fim de semana, o extrato do cartão de crédito da esposa que ultrapassou o limite, o time dele, que perde para todo mundo, mas dessa vez foi roubado pelo juiz, aparecer um novo funcionário com a metade da sua idade, cheio de vontade e que não dá bola para salário, e qualquer dessas coisas muito sérias e improváveis de acontecer.

Eu sei que o funcionário público passou por um concurso, cada vez mais difícil, não tem fundo de garantia, convive com a política e não ganha insalubridade, sofre com a rotina de carimbar o mesmo papel azul, não tendo nunca a oportunidade de carimbar o papel rosa (Gente, isso é desumano), enfim, também tem suas razões para essas vantagens.

O funcionário público deve se sentir um privilegiado, pois conseguiu para si, o que Jesus Cristo quis e não pôde oferecer para a humanidade.

Mas eles acabam tendo que enfrentar um dilema, digno da mitologia, que é ter estabilidade, nunca ir para a rua do emprego, e suportar num moto-perpétuo do inferno, as mudanças constantes de suas chefias, sempre com indicações dos políticos.

É uma estabilidade amaldiçoada.

Viva a desestabilidade!

Sérgio Lisboa.

Sérgio Lisboa
Enviado por Sérgio Lisboa em 08/02/2008
Código do texto: T850593
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