MAIS UMA VEZ

Hoje seguia meu caminho na minha presa de fim de tarde quando, repentinamente, me deparei com uma voz. O caminho era outro, a rua era outra mas a voz era conhecida minha. A mesma mulher que me chamou atenção, a da crônica “Ecos de felicidade”, estava novamente a recolher o lixo e a cantar. Dessa vez não tão alto quanto da outra e a música era em português. E eu reconheci a voz e mirei o rosto, rapidamente já que não parei nem desacelerei meus passos. Vi novamente seu vigoroso sorriso.

No percurso até o ônibus saí a relembrar a exuberante alegria em que ela se encontrava da primeira vez que a vi. Achei que pela rapidez com que a olhei se passasse por ela novamente não seria capaz de a reconhecer, mas soube que era ela pelo som que ouvi. A rua estava movimentada, muitos carros a fazer barulho. Ela cantava num tom mais baixo, nem consegui reconhecer a música que cantarolava, ainda assim soube quem era e olhei para, de relance, contemplar mais uma vez a sua alegria. Dessa vez não vi ninguém parar, comentar ou rir. Eu, pra variar, acabei pensando em traduzir sua canção. É, traduzir! Não é loucura minha querer traduzir uma música da língua portuguesa para a “língua portuguesa”. Palavras quando faladas ou escritas sempre têm uma tradução, o significado está velado, e na maioria das vezes não queremos a tradução. Preferimos observar só o corpo das palavras a ver sua alma. É mais fácil, evita transtornos e surpresas, cria couraças. Melhor assim, pra quem ouve, pra quem lê, não para mim. Eu, sem parar de andar mas parando para refletir, acabei traduzindo de novo. Não posso dizer que ela estava extasiadamente eufórica, agora tinha uma calma, um sorriso sereno. Ouso-me a dizer que seu cantar dizia: “A alegria faz parte de mim. Meu sorriso é uma marca em meu rosto. A música me faz ecoar sentimentos. Continuo a emitir ecos de felicidade”. Depois de explicar a música resolvi traduzir minha reação. Contemplar um sorriso é sempre algo fascinante pra mim, o cantar sempre passa sensações e sentimentos, a minha pressa me faz fugir mas, não me faz deixar de ver, ouvir e sentir.

Não creio no acaso, a vida nos proporciona momentos únicos, com detalhes insubstituíveis, talvez eu queira sempre ver esses detalhes que passam tão despercebidos. Se vejo aquele sorriso e ouço aquela voz mais uma vez, terei novas elucidações. Sorrio pra dentro novamente.

Silvia Pina
Enviado por Silvia Pina em 09/02/2008
Código do texto: T851919
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