CIÚMES, BICHO FEIO!

O dia já estava quase amanhecendo, o que indicava para nós os baladeiros que era o fim da festa. Tinha combinado com uma antiga paixão, agora extinta e ressurgida como uma amizade – estranha, mas uma boa amizade - de sair. “Caipirinha” tinha me mostrado o mundo no passado, mas também fôra capaz de destruí-lo muito facilmente. Porém, quando acordei de um porre histórico notei que nós dois como um casal jamais daríamos certo, até porque Caipirinha não era como eu a via, mas como amigos eu posso dizer que era um bom aperitivo, ou seja, uma dupla boa.

Agora estava namorando - Michael - um sujeito muito legal, que tive o prazer de ser apresentado quando eles ainda estavam ficando. Porém, agora era oficial, eles estavam em um relacionamento. A balada fôra ótima, muito animada e descontraída. Quando estava voltando para casa, Michael deixou Caipirinha em casa e perguntou se eu me incomodava de ficar na rodoviária e fumar um pouco, já que no dia seguinte ele não iria trabalhar e não queria voltar para casa. Eu logicamente concordei, estava sem sono, e bater um papo era comigo mesmo.

E assim fui conhecendo Michael melhor, e descobrindo que além da Caipirinha tínhamos varias coisas em comum. Já me sentia amigo dele, e podia ver que era recíproco. Mas entre uma tragada e outra ele falou frases que me tiraram o sono, pensando sobre o assunto. Ele virou e disse:

- Cara, eu amo a Capirinha! De verdade... ainda não disse isso a ela, mas na hora certa irei dizer!

Achei o máximo, ambos mereciam ser felizes, estava torcendo demais por eles.

- Mas eu sou super ciumento. Não consigo nem pensar em outra pessoa tendo desejos com a Caipirinha! – disse logo depois, tragando o cigarro.

Após ouvir aquela frase, um arrepio subiu sobre a minha espinha e notei o quanto absurdo era aquilo.

Eu jamais tinha parado para pensar o quanto irracional o ciúmes é. Se eu estivesse envolvido, jamais conseguiria escrever sobre esse assunto. Porém, vendo de fora e analisando esse meu novo amigo, eu posso dizer o quanto chocante foi.

Minha surpresa foi tamanha, até porque não tinha certeza se Michael já estava sabendo do que houvera no passado entre eu e a Caipirinha, e mesmo sabendo ou não, nunca senti ou me passou o quanto ciumento aquele jovem rapaz era. Uma cara inocente, bom menino, que após dizer aquele frase entre a fumaça do cigarro, seu rosto mudou, se transformou numa face pesada, insegura e nada bonita.

E é isso que o ciúme é, algo nada bonito. E sem sentido, pois como Michael poderia controlar o pensamentos dos outros?! E foi exatamente o que me pus a falar para ele, e numa risada sem graça, notei que nem ele tinha idéia de como fazer isso, mas sofria com aquilo.

Ciúme é medo, e ele nos limita, nos frustra. Se ciúme fosse uma coisa boa, quando ele surgisse nós sorriríamos, mas ao contrário disso ficamos com os olhos espremidos, damos ataques, chiliques, pitis e nos fechamos como ostras.

Ciúme é querer prender, é querer escravizar o que é livre, o amor. E isso não é saudável. E pra quem diz quem ama cuida, eu concordo, cuide dando amor. Fazendo valer a pena o tempo que estão juntos. Não se tornando um paranóico temendo o que você não tem. Por que esquecemos que ninguém é de ninguém, pessoas não são propriedades, estão com a gente porque querem, podendo deixar de estar a qualquer minuto?

Michael é uma ótima pessoa, mas conhecendo Caipirinha, eu sabia que iria ver aquele bicho do ciúmes outras vezes. Nos despedimos e voltei para casa, ainda com a pulga atrás da orelha.

Por que cismamos em assumir maus hábitos, se sabemos que não faz bem, por que não jogamos esse hábito fora?

Conversando com Mari, uma amiga de longa data, resolvi perguntar pra ela sobre ciúmes, mas antes de abrir a boca, ela já foi me contando seu dilema.

Há alguns meses atrás criamos um MSN falso, com um nome de uma garota e adicionado o namorado, a fim de testá-lo. Várias tentativas frustradas, uma acabou acertando o alvo e ele e a fake marcaram um encontro. E agora tinha sido traída por ela mesma....

Ela afirmava não ser por ciúmes, e ter tido seus motivos para fazer aquilo.

Mas de qualquer forma, isso não vinha ao caso. A pergunta que não saía da minha cabeça era: o que ela tinha ganhado com aquela atitude?!

E faço a mesma pergunta para os ciumentos, o que ganham com tanto medo?!

Até que ponto uma pessoa vai por ciúmes, até que ponto vale a pena passar por tudo isso?

Se eu já fui uma pessoa ciumenta, depois desses últimos acontecimentos eu realmente deixaria de ser. Ciúme não faz sentido, não será algo que me acrescentará nada. É um bicho feio, que gruda em nós como um parasita, nos tornando irracionais e possessivos.

Eu estava vacinado, naquela moléstia eu realmente não iria sofrer, aliás, eu ainda sou a favor da liberdade!

Por isso aquele bicho feio no meu mundo não iria entrar, não teria espaço mais para ele. Se podemos escolher quem entra e quem sai dos nossos universos internos, eu realmente tinha barrado a entrada dele. Ficaria trancado num armário escuro e mofado, aonde acredito que seja seu lugar!