Nos confins da paciência...

Uma mulher nunca sabe até que ponto sua paiência vai antes do dia "over". Pois eis que este veio.

Para aquela, estacionar o carro numa vaga minúsicula devia ser teste de masculinidade, não da sua estupidez momentânea.

A mulher pára o carro diante da garagem: analisa os fatos, o tamanho do carro, a largura da vaga e tem certeza de que vai caber. Mistura os pedais, pisa no acelerador e amassa a porta direita.

Desce pra ver o estrago. Em seguida cospe no chão, como se testasse a quantidade de veneno proveniente do seu pensamento naquele instante. Foi só um amassado simples, respira aliviada. Até quese lembra que ainda resta um meio de carro pra fazer caber naquele espaço inconcebível.

Desolada, corre o olhos pela vizinhança. Nada. Percebe sua incapacidade geográfica. Sente-se minúscula, mas logo desvia o olhar pelo retrovisor e vê que se cabelo está horrendo. Deve ter sido na hora da raiva, raciocina. E sem querer pisa denovo no acelerador. Menos mal, o freio de mão está puxado. Mas ele não funciona.

Furiosa, percebe que o retrovisor está indecentemente amassado, imprensado entre a porta do motorista e o pedaço de muro. Ré ou frente? Pra que lado mesmo eu giro o volante? raiva, raiva, raiva... Abana-se, em sinal de desespero. Tenta se acalmar, respira fundo e tenta novamente...

Agora sim, tira o retrovisor do calafrio, mas se lembra que não sabe fazer rampa. A garagem é perpendicular à porta. Espaço pequeno...

Os olhos lacrimejam. A boca treme. está prestes a um ataque de nervos, até que vê um vizinho bndoso que lhe dirige a palavra; "dificuldades com o carro?!?!?!"´"é que eu.. hã, hé, eh!!! tá meio complicado estacionar hoje." Omite o fato de que comprou a carteira de motorista numa época em que ainda haviam corruptos no Detran. Sente-se jovem; não faz muito tempo.

Distraída, não vê o amasso que o vizinho faz na traseira do carro. Reflete:"que injusto!" a diferença de espaço entre suas tentativas frustradas e a capacidade de um homem. Vê os amassados do vizinho e os atribuem a si. Ele esqueceu o freio de mão...o carro volta, exatamente na metade do caminho.

O merda do vizinho sumiu... carro, carro, carro. Buzina, como se quisesse acordar. Perde a paciência, acelera com toda a velocidade, e eis que o carro está lá, estacionado e tranquilo, como se ressonasse no sono dos justos...