ROLETA BRASILEIRA

Elas já estavam viajando há umas quatro horas, só mulheres, já viu, né? Lógico que tem que parar para um banheirinho básico. Pois é! Pararam em um ponto de apoio, muito do simplesinho (mas tinha o bendito banheiro!)

Aquela, que não parou um minuto sequer de falar durante a viagem, saiu na frente e foi direto para a “casinha”(como elas dizem); lógico, tanto falou que tanto bebeu água! Movimento da terceira idade, da maturidade, da melhor idade! Bom demais! Todas animadíssimas! Foi ela para lá. Chegando à porta, deparou-se com uma roleta: só passariam se pagassem cinqüenta centavos.

-Olha aqui, menina, eu tenho mais de sessenta, não tá vendo? Quem é da terceira idade não paga para entrar em lugar nenhum! No máximo, meia entrada!

A mocinha, que estava cobrindo a folga de uma colega, olhou para aquela senhora distinta que estava à sua frente sem saber ao certo o que dizer.

-Em todo lugar que eu vou, saiba que eu sou muito bem tratada. Por que justo aqui, no meio da estrada, eu, doida para me aliviar, tenho que pagar pra isso?

- Minha senhora, (a moça, cada vez mais quadrada) é que eu não fico normalmente aqui. Se a senhora esperar um pouquinho, eu vou perguntar para a minha colega que tá lá dentro se a senhora pode passar sem pagar.

- Aqui, e seu eu não tiver dinheiro para pagar, o que eu faço? Tenho que fazer nas calças? Isso é um absurdo.

Ficou lá saltando uns impropérios para uma companheira de viagem (que estava se divertindo com a situação) enquanto a moça ia lá dentro do sanitário, interrompendo a colega que estava limpando uma das “casinhas”. Voltou com ar desolado:

-É, não tem jeito, a roleta marca quantas pessoas passam. Se a senhora rodar sem pagar, eu é que tenho que prestar contas depois. Se a senhora (ela realmente respeitava a “senhora”) conseguisse pular a roleta, não precisaria pagar. Mas, com essa idade...

- A mocinha pensa que eu não dou conta de pular? Saiba que eu pulo esse negócio aí quantas vezes for preciso, viu? - E começou a pular a roleta de um lado para o outro até que a mocinha, atordoada, pediu que ela parasse, que ela podia entrar sim.

-Viu? Eu estou na melhor idade, minha filha, eu ainda dou conta de muita coisa, viu? E quer saber? – tirou da bolsa um real e entregou para a mocinha – eu estava era fazendo hora com você, eu tenho dinheiro, sim, para pagar minha “urinada”. –E entrou tranqüilamente rodando a roleta. A companheira entrou logo depois, rindo demasiadamente entre os dentes.