Vida Plástica

Minha vida plástica é enlatada novamente dentro de minhas entranhas. Sou amordaçado por minhas próprias vísceras, fico cego por fechar meus olhos por própria vontade. Estou preso dentro de mim, e de tão inflamado, quase arrebento minha própria prisão. Tanta tristeza, tanta solidão, tanta falta de querer, minhas palavras ecoam ao vento voltando um som vazio de resposta alguma.

Vivo por osmose e tento ainda sim deixar algo que valha a alguém que assim também o seja. Mas vejo que meus esforços vão sendo inúteis a cada dia, semana, mês e anos que se passam. Minhas cores são plásticas também, meu sol nasce sem cor, cinza, e por fim, o gosto dos meus dias são insípidos, sem paladar, quase que secos, difíceis de engolir.

Sinto então que minha hora chega, a partida talvez, um recomeço talvez, um novo toque, uma nova vida, um novo sonho a sonhar, dispensar minha energia sobre um solo pouco fértil. Nada valorizado por quem ali habita. Tento, logo deixo de existir, antes questionava para existir, hoje deixo passar, deixo tomar conta de mim, este vazio que habita o mundo me toma como lar, e então faz jus ao uso capião, justamente seu, por tanto tempo ali.

Fico seco, surdo, mudo, cego, pratico então. Não sinto mais a dor de deixar nada. Que perfeição o mundo é. Me fez amargo para então deixar para traz tudo o que tanto amava. Vou então, sem remorso, pois fiz, aconteci, vivi, cresci na medida que minha capacidade me permitiu.

Quis que minha voz fosse então ouvida mais vezes, por poucas pessoas, e nem isso consegui. Quanto me faltou para conquistar esta maturidade tão valente e simpática que todos querem perto. Não sei, meu preço, se me argüirem no outro plano, vou dizer, não foi barato. Paguei caro uma vida sem felicidade, em busca de melhorias, de maturidade, de aprender, do tal incondicional que jamais vi em plano real.

Me importei quase nada com tudo. Fui displicente muitas vezes com poucos também que mereciam mais meu tempo. Tempo, justo, injusto, não sei, mas vorás, algoz de meus sonhos, me levou, tomou, ignorante e sem pudor, toda minha juventude, sem me dar a chance de então fazer pela segunda vez tudo o que até ali havia errado.

Peço perdão a quem fica, por não ter ido mais longe para então tentar mais uma única vez mostrar o quanto meus olhos admiravam o mundo. O quanto gostava do verde, do ar fresco, dos pássaros, do mar, da natureza, da vida. Nunca me cansei do obvio, pois a vida assim o é.

Sou assim, parte de tudo, obvio, capaz, sou tão leve quanto o chumbo que tens nos seus profundos medos, esquecidos, e quase inexistentes, mas sim, eu existo, existi, e vou constar nos arquivos de sua memória o mundo passando, deixando ou levando o que for, mas vou estar ali, leve, marcando sua historia como uma brisa, de passagem, mas da mesma forma, eterno.