Tédio

Entre as chatices da vida está o tédio nas formas mais variadas possíveis. A própria rotina do cotidiano transforma-se em tédio. É o acordar, espreguiçar-se, calçar os chinelos correndo após verificar a hora e certificar-se de que chegará atrasado ao trabalho. É o enfrentar a cozinha para preparar o café, o rápido banho. Rotina é tédio, literalmente.

E o trabalho? Se ele é legal, ambiente agradável, colegas toleráveis, patrão mais ou menos (porque geralmente ele é menos do que mais), ainda vai, o tédio é menos entediante. Pior se o trabalho é aquele que a gente aceita porque é o jeito até se conseguir coisa melhor, e porque com se com pouca grana é duro para se viver, imagine sem nenhuma. Mesmo sem esperança de se tornar rico, todo mundo gostaria de o ser. É por isso que muita gente gasta na loteria o que não deveria, na doce esperança de enriquecer ou pelo menos sobreviver dignamente dentro dos padrões necessários à vida humana.

Namorado chato, ciumento e namorador de outras, é um tédio; noivo possessivo, mandão e ciumento é um tédio; marido prepotente e mulherengo, também. E tédio maior é quando eles são submissos demais, do tipo que aceita tudo, mulher mandando neles e fazendo deles gato e sapato. É claro que isto tudo é válido para o outro lado da moeda, no que diz respeito ao sexo dito antes frágil, que de frágil não tem mais nada, já que enfrenta a mesma dureza de vida do sexo oposto.

Tédio é tolerar os que tentam mostrar o que não são. Jogam no time dos pseudos: ricos, educados, bonitos, elegantes, intelectuais. Este é um dos tédios mais entediantes nesta humanidade desumanizada. É um saco! E por falar em saco, é um tédio ver e conviver com os puxa-sacos. Será que eles não desconfiam?

Tédio é suportar os dias frios e chuvosos que obrigam a gente a fazer tudo que é simpatia para o tempo mudar e ele não muda. A gente sonha com um sol gostoso, tempo bom, e nada; só fica na vontade.

Agora, supertédio é a gente ficar doente, de cama. Abusa-se de ler, de ver TV, da comida, do quarto, de tudo. Isso em casa, imagine sum hospital! Visitas é uma raridade; estamos nos tempos de cada-um-por-si-e-Deus-por-nós todos; é difícil ser o bom samaritano da parábola. Alega-se a falta de tempo durante a semana e, no fim dela, obviamente, está todo mundo cansado de problemas e de dar duro, quer ficar numa boa, que ninguém é de ferro.Aí é que o doente fica mesmo entediado já que nem visitas recebe.

Paciência, então. Sabe qual é um bom meio de se lutar contra o tédio? É ter bom humor, apesar dos pesares. Afinal, ser bem-humorado, ser todo sorrisos, envelhece menos já que cara emburrada cria pés-de-galinha. No mais, é aprender a conviver com o tédio, numa boa, até que chegue o tempo das " vacas gordas", se chegar...

Nadir de Andrade
Enviado por Nadir de Andrade em 17/02/2008
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