A VIL MATÉRIA E O ESPÍRITO!

(texto poético)

Esquecido, ignorado e desorientado, tremendo e faminto, vagueia o mendigo pela noite à dentro, inseguro e carente das benesses que lhe cobririam o corpo e acalentaria o seu estômago vazio e... Dolorido!

Ele, não tem meta a seguir, transitando com velhas e maltrapilhas vestes, se sentindo um restolho humano e... Decepcionado com o seu malgrado viver!

As calçadas sujas e cheias de protuberâncias, inclusive, de fezes de animais, são as suas passarelas diuturnas. Os latões de lixo são a sua orientação e balizamento à procura de sobras alimentícias. Os portais, portas e portões, sempre fechados para Ele, de onde, apenas, a brisa, em ricochete, o alcança e o alivia um pouco.

Em cada cruzamento percorrido, os seus ombros vão se abaulando em direção do solo, com os seus pés vacilando e reclamando do acúmulo de peso, na fuga dos escombros empoeirados.

Pára! Ante uma luz forte de um dos postes e, atoleimado, se sente tal e qual, uma simples mariposa embevecida. Nas casas, ao derredor, vê o máximo conforto sem divisões para Ele... Um mero fantoche copiador da vida fulgurante ao seu redor!

Apóia-se a uma parede sentindo o seu calor e, ao mesmo tempo, arqueando, senta-se no piso a lhe umedecer e gelar as nádegas, com uma funesta sauna imposta e sem clemência, por lhe dar o calor da parede e o frio do piso.

Todos nós! Somos de Deus o reflexo, em um retrato de valor positivo, entretanto, os Homens, numa ambição desmedida de recolhimento de Bens materiais e valores para si, faz do miserável mendigo um mero... Negativo!

O pedinte sofre em sua carne o abandono, estando (ou, não) às margens da fartura, se dilacerando na “escada” da vida que o levaria a um altiplano, quando lá chega, se o conseguir estará, totalmente, arrasado pelos sofrimentos e fome na tentativa da subida.

Todavia, acabada a condenação da mísera matéria lhe doada, o seu espírito refletirá com um poderio real, totalmente liberado da casca material, por Ele carregada durante a sua passagem entre nós, deixando os afortunados dos palácios e residências monumentais com uma dívida redobrada e infindável, por ter permitido a miséria e praticar o desinteresse total sobre o seu irmão da caminhada pelas “estradas” da vida!

Vê-se, a seguir, uma modesta poesia de minha autoria e inédita, alusiva ao texto acima:

A JORNADA!

Perdido na noite impura

Sem itinerário definido,

Vagueia a rota criatura

Paria da vida... Desiludo!

Têm calçadas por passarela,

Latões de lixo como baliza.

Portais/camarotes, seqüela!

Pôr aplausos, apenas a brisa!

A cada esquina vencida

Arqueiam os seus ombros,

Os pés vacilam na subida

Ao fugir dos escombros.

Para ante o neon... Absorto!

Igual uma mariposa vencida.

Nas casas, o máximo conforto,

Nele... Um arremedo de vida!

Encosta-se na parede quente,

Nádegas no piso úmido/gelado:

Sauna funesta e inclemente

A dizimar o âmago do coitado.

Somos de deus o retrato

Com reflexo... Positivo!

O homem, em voragem,

Faz do mísero... Negativo!

Sofre a carne do abandonado

Dilacerada na escada da vida,

Chegando ao patamar arrasado

Pêlos percalços da vã subida!

Porém, esgotada a natureza

Da vil matéria lhe doada,

O espírito reluz com realeza

Liberto da casca da jornada.

O afortunado da matéria

Terá dívida... Acumulada,

Por dizimar a miséria

Sobre irmão de jornada!

Sebastião Antônio BARACHO

conanbaracho@uol.com.br

Sebastião Antônio Baracho Baracho
Enviado por Sebastião Antônio Baracho Baracho em 18/02/2008
Código do texto: T864671