Felicidade Vicia
Goethe disse que tudo nesta vida é suportável, menos felicidade constante. Achei estupidez. Hoje está claro que ele tem razão.
Felicidade vicia como a pior das drogas. Causa dependência imediata e leva à morte, em última instância.
Quem passa uma semana em constante alegria, dopada por momentos de júbilo e prazer, irá afogar-se deliberadamente durante a cena de um filme biográfico, da poeta que comete suicídio. Fatalmente.
E isso não acontecerá nos momentos em que a poeta, catatônica, se desequilibra entre a vida e a morte na dúvida do que seria pior e portanto, melhor. Mas no momento de êxtase, naquele em que nós sabemos que a felicidade, aquela que a pessoa se força a desfrutar para manter-se nesta dimensão, é pó. Volátil e efêmera.
Alegre sou, por natureza. Portanto, trago melancolia no fundo dos olhos. Porque a melancolia mora na alegria. Ela reina soberba onde o riso é fácil, e isso não é fingimento. É a natureza das coisas.
Sem a surpresa do sentimento que te dominará naquele dia não há porque levantar-se da cama. Somos movidos a antagonismos. Ao caos querendo ter controle. À oposição querendo tomar o poder.