Corrigindo Impressões

Ontem aconteceu um fato inusitado, um momento de negligência e irresponsabilidade de minha parte, momento este que faz com que minha consciência permaneça latejando no cérebro até agora.

Ontem, foi um dia anormal, o primeiro dia de meu filho na escola pública, porém, com toda a correria da vida cotidiana, alterei minha rotina diária e tive que pegá-lo na escola antes do horário normal.

Fui de moto e ele tem apenas 3 anos e 5 meses, e o capacete que comprei para ele, é próprio para a prática de bicicross; e como ele ainda não tem 6 anos, não poderia andar de moto, nem como passageiro.

Para complicar, coloquei ele sentado na minha frente na moto e segui para levá-lo até em casa, já que tinha que voltar ao trabalho correndo.

No caminho para a casa, uma viatura da Polícia Militar me abordou.

"_Que droga", eu pensei, pois conheço a lei e jurei que seria multado e o veículo apreendido, fora os tais pontos na carteira.

O policial desceu da viatura, e educadamente pediu para que eu descesse da moto e pegasse meu filho e que o colocasse no chão.

Conferiu os documentos, olhou para meu filho e disse: _Que bonito AIR-BAG o senhor comprou !!!

Na hora, meu coração apertou, e conti as lágrimas, porém o PM continuou:_O senhor sabe que no caso de uma frenagem brusca, seu filho irá voar da moto? Sabe que se o senhor sofrer uma colisão ele será seu escudo? Que o senhor está colocando a vida dele em risco? Que o capacete que ele está usando não é próprio para trafegar em motocicleta, que com uma queda leve, este material quebra com facilidade?

Sim, eu sabia de tudo isso; falei da minha pressa, de meu dia anormal, da escola, que a saída é às 17:00hs, mas nessa semana foi modificada para 15:00hs, que eu tinha que voltar ao trabalho, etc..., porém ele olhou outra vez para meu filho e disse:_Deus te concedeu uma dádiva, não faça isso de novo, pois depois que ocorrer uma fatalidade e você estiver no velório de seu filho, irá sentir-se culpado pelo resto da vida e será obrigado a conviver com o resultado de sua pressa e de sua irresponsabilidade.

Pronto, isso tudo foi pior que qualquer multa, abracei meu filho e prometi ao policial ter mais atenção, e cumprir rigorosamente a lei.

Estava esperando a multa, que seria de um alto valor e além disso acarretaria alguns agravantes, pois eu colocava a vida de um incapaz em risco.

Contudo, o policial anotou meus dados e disse que seria uma advertência verbal, dando uma chance para que eu revesse minha atitude e pensasse mais no risco a que estava expondo meu filho e levasse ele para casa andando a pé.

Devido a esse acontecimento, eu, que sempre tive uma impressão negativa da polícia, que sempre elaborei uma concepção -vigiar e punir (Foucault)- da polícia, tive que corrigir minhas impressões e admitir que dentro da polícia existem sim, algumas pessoas preparadas, bem educadas e que conhecem as leis, conhecem as pessoas e que sabem que às vezes, um diálogo e uma orientação são bem melhores e eficientes do que a mera aplicação de uma multa.

E que a simples multa, que iria gerar uma gratificação a mais no salário dele, poderia porém, fazer com que mais uma pessoa tivesse outra má impressão do trabalho repreensivo da polícia (que como toda instituição, pública ou privada tem seus bons e maus integrantes).

Seu eu fosse multado, não iria pestanejar, iria pagar com a plena consciência de que errei e realmente fui um pai irresponsável por alguns instantes, porém, a atitude do oficial causou em mim, uma melhor impressão da instituição Polícia Militar.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 19/02/2008
Reeditado em 20/02/2008
Código do texto: T865785
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